Um questionamento que frequentemente aparece ao falar de uma vida como freelancer ou autônomo é sobre carreira.

Afinal, se não há uma empresa ou instituição para nos promover como vamos avançar em nossas carreiras?

Há muitas formas de responder a essa pergunta e nesse artigo vou te dizer que as coisas são mais simples do que parecem.

Esse artigo faz parte da série Desafios da Autonomia, então aproveite para também dar uma olhada nos outros posts:

O que é carreira?

Para começar, acho interessante passarmos pela definição de carreira e também de como isso interfere nas nossas escolhas.

Naturalmente, não sou nenhum especialista em tipos de carreiras e nem vivência numa instituição com caminhos tradicionais de progressão. No entanto, a soma de uma pesquisa no Google com a vivência nesse mundo que vivemos é um ponto de partida para a análise.

Podemos pensar que no centro da ideia de carreira há a ideia de progressão, avanço ou crescimento. Esse caminho a ser trilhado profissionalmente é tão importante que é também associado à própria noção de profissão.

“Qual carreira você vai seguir?” – Quem nunca ouviu isso quando adolescente…

Uma carreira começa com pouca responsabilidade, dinheiro e status. Em seguida, os desafios crescem junto com as responsabilidades e retornos financeiros. Em geral, independência, segurança, gestão, dedicação e meritocracia são termos que aparecem no radar ao lidar com esse tipo de assunto.

Porém, algo que é de extrema importância no avanço de uma carreira é o aumento de status. De prestígio.

Quem está mais em cima na pirâmide tem mais poder de ação, influência, responsabilidade, estabilidade e, naturalmente, ganha mais.

Carreiras – isto é, a jornada de títulos e ações profissionais – podem ser determinadas previamente pela empresa ou instituição em que o indivíduo trabalha. Mas também podem ser construídas juntamente com os empregados.

Como estamos cada vez mais em um ‘mundo de possibilidades’, a mudança de carreira e a flexibilidade de atuação é algo que é compreendido pela maleabilidade que uma carreira pode ter; tanto na decisão individual de cada um quanto nas propostas que empresas oferecem de debate com seus funcionários.

Assunto muito bacana, mas como isso se relaciona com o desafio que enfrentamos sendo profissionais independentes?

Pensando nessa ideia, vou explorar cinco tópicos relacionados com a definição de como a carreira pode ser entendida na vida do profissional freelancer ou autônomo.

  1. Dinheiro
  2. Status
  3. Autonomia
  4. Desafios
  5. Crescimento

Dinheiro

Vamos começar pelo ponto mais mencionado na ideia de carreira e progressão e, possivelmente, o mais fácil dos cinco.

Existem várias formas de cobrar mais pelo serviço que oferecemos. No entanto, um dos principais pontos é o tipo de serviço ou produto oferecido e também para quem oferece esse serviço ou produto.

Pensa só, um coach pode começar cobrando R$ 50 a hora para pessoas que recebem um salário mínimo por mês. O trabalho pode ser bem padrão e sem muita margem para personalização. Ótimo para quem está começando.

Com o tempo, a experiência e conexões vão, esperançosamente, levar esse profissional a poder oferecer um serviço similar por R$ 200 a hora para um público mais selecionado.

Uns 10 anos depois ele pode oferecer algo super personalizado por R$ 1000 a hora para pessoas bem mais ricas.

Algo bacana do trabalho como freelancer e autônomo é que nós mesmos podemos definir nosso posicionamento. Podemos escolher para quem oferecemos nosso serviço.

“Mas por que todo mundo então não oferece para pessoas mais ricas e cobram valores mais caros?”

Naturalmente, o seu posicionamento tem que ser sustentado pela sua história. Essa ideia de sustentar é fundamental. Significa você se sustentar como expert ou experiente em determinado assunto. Significa que sua capacidade de gerar resultado real é baseada pelo seu conhecimento e jornada.

Contudo, às vezes a sustentação ocorre apenas pela história que você deseja contar para outras pessoas. Isso significa que, com a confiança na sua ‘sustentação’, é possível se posicionar como um profissional muito mais experiente e ‘caro’.

Por que você acha que de vez em quando ficamos sabendo de uma determinada pessoa que, mesmo sem experiência, conseguiu fechar um negócio surpreendente ou uma posição numa empresa que só sêniors ocupam? A história contada por meio do posicionamento é a resposta.

Status

Somos seres que compreendem nosso lugar numa sociedade por meio de uma hierarquia. Isto é, tendemos a nos posicionar em hierarquias sociais em cada ambiente que nos encontramos através da comparação com outras pessoas.

Um estudante numa escola, em geral, está abaixo do professor. O mesmo estudante pode fazer uma arte marcial e, com sua faixa verde, estar acima do professor que acabou de iniciar seu treinamento como faixa branca.

Essa posição na hierarquia social é super diversa e complexa, então peço que entenda a minha simplificação aqui como um gatilho para suas pesquisas futuras e não como uma verdade ou subestimação do assunto.

Parto do pressuposto que todos nós nos identificamos nessas diversas hierarquias. Seja pedindo o respeito ou demandando ação, em geral quem está mais ‘acima’ numa hierarquia tem mais poder e capacidade de ação.

Também, dependendo da cultura, sociedade ou local, há uma busca por melhora e crescimento dentro das hierarquias. Queremos avançar nas faixas das artes marciais, virar mentores e nos desenvolver nas carreiras.

O status, por sua vez, é a vaidade e orgulho resultantes do desejo pelo avanço na hierarquia. Não é o simples fato de estar ou não em determinado nível na hierarquia, mas o sentimento de superioridade de ocupar determinado espaço.

Num ambiente de trabalho freelancer e autônomo, podemos até nos comparar com outros profissionais e entender que quem tem mais clientes ou cobra mais caro está mais ‘acima’ e, consequentemente, possui mais status.

No entanto, considero que há duas formas de encarar essa questão:

1) Sim, considerar que ter os melhores clientes, cobrar mais caro e trabalhar menos são formas de consideração de sucesso, crescimento e status.

2) Refletir sobre a necessidade de status e buscar a motivação e crescimento pelo seu próprio desenvolvimento e não comparação com outros.

O crescimento e as oportunidades acompanham os profissionais mais independentes – ouso dizer que até com mais velocidade e frequência do que em carreiras mais tradicionais. Porém, a consideração de superioridade e status pode ser uma escolha se resolvemos questioná-la.

Autonomia

Os próprios nomes autônomo e freelancer já indicam muito sobre as vantagens com relação à autonomia.

Num ambiente tradicional de trabalho a autonomia vem com o poder de decidir um pouco mais sem precisar falar com o chefe.

Um estagiário começa sem poder decidir nem a marca do café a ser comprado. Com o tempo e algumas promoções mais e mais decisões podem ser tomadas sem o aval de um superior.

Eventualmente, novas ideias podem ser apresentadas e implementadas com a verba disponível ao seu departamento.

No mundo da autonomia profissional, por outro lado, o primeiro dia de trabalho começa com todas as decisões em aberto.

A motivação vem em grandes pulos pois a própria concepção do negócio, do produto e serviço são inteiramente de responsabilidade do(a) profissional.

Ao mesmo tempo, é um desafio enorme pois tudo, inclusive a marca do café, precisa partir da nossa decisão e ação. Temos todo o poder, o que significa que podemos tanto seguir nossa jornada com velocidade máxima quanto deixar o negócio estagnado se um certo dia não avançarmos.

Autonomia é ter responsabilidade. Responsabilidade motiva e pressiona a ação. Não há forma de ter mais autonomia profissional do que sermos profissionais de uma pessoa só.

Desafios

Seguindo o ponto anterior, a autonomia traz uma série de desafios que dificilmente enfrentamos dentro de uma instituição.

Dentro do ambiente tradicional nossos desafios são muito diferentes do que na vida autônoma. Não necessariamente um dos lados é mais difícil ou mais interessante/intrigante. Simplesmente são diferentes.

De um lado temos acesso a ferramentas caras, consultorias, outros colegas de trabalho para debater e caminhos que aproveitam dos recursos e posicionamento da empresa. Do outro, temos que ser uma pequena empresa inteira – com restrição de ferramentas, recursos e pessoas.

Nesse sentido, o que é mais importante não é considerar qual tem mais desafio, mas sim como enfrentamos a noção de desafio. Em muitos momentos da minha ‘carreira’ eu me senti pouco desafiado e, consequentemente, mais desmotivado. O fator não era a minha autonomia ou a minha capacidade de ação, mas sim a forma como estava enxergando os desafios.

Aqui não tem uma resposta certa. Cada pessoa tem que buscar dentro de si a conexão dos desafios com os objetivos na vida e compreendê-los naquele contexto.

Crescimento

Quando começamos a trabalhar como profissionais freelancers, carregamos nossos conhecimentos e nossa carreira anterior conosco. Isso pode significar 20 anos de experiência na área ou então zero. O que é importante é que assumimos um papel em que nossa marca pessoal e nossa história determinam nosso posicionamento.

Esse posicionamento é traduzido em que tipo de cliente podemos e vamos abordar. Consequentemente, isso também leva ao tipo de retorno financeiro esperado.

Um exemplo:

Já trabalho com desenvolvimento de websites há muitos anos, mas apenas 3 anos atrás comecei a pegar trabalhos como gestor de projetos para outras empresas. Como eu já tinha administrado vários projetos e empresas, eu trouxe essa bagagem comigo ao poder oferecer meus serviços.

Não precisei cobrar um valor mais baixo só porque era a minha primeira experiência como gestor daquela maneira. Trouxe comigo minha experiência, contei minha história e ‘vendi meu peixe’.

Crescimento, assim como o dinheiro e o status, vem de um entendimento interno do que aquilo significa para nós.

Crescer numa profissão pode ser buscar a maestria na atividade. Pode ser status. Pode ser dinheiro. Pode ser mais poder de ação e autonomia.

A diferença de uma vida freelancer para uma carreira tradicional é que na freelancer nós criamos nosso objetivo final. Não é algo predeterminado por alguém ou alguma instituição.

O que consideramos como crescimento profissional vira o crescimento profissional.

Para mim, nesse momento, crescimento significa poder cada vez mais impactar pessoas através dos meus conteúdos e acelerar um mundo em que a autonomia profissional seja o mais comum. Ao mesmo tempo, significa poder ter mais tempo para pessoas, cuidar de mim e estar com pessoas queridas.

Cada vez que conquisto um pouco mais de impacto e tempo, me sinto um degrau acima. Não há necessidade de comparação com outros em questões financeiras, status ou qualquer outra coisa.

Porém, é preciso que o que consideramos como crescimento seja verdadeiro. Algo que está além do que dizemos para agradar os outros. Tem que partir do coração.

Para fechar o artigo, quero lembrar que essa séria de desafios da autonomia é mais um relato do que uma lição. A documentação dos desafios que enfrento na busca de mais pessoas para compartilhar, debater e me ajudar a crescer.

Então, quero saber sua opinião e como você considera os pontos acima (ou quem sabe outros) relacionados com a carreira e progressão como profissionais.

Divirta-se!