Eu tenho vários privilégios.

Um reconhecimento simples de alguém que nasceu em uma família que me apoia, me alimentou e me proporcionou uma boa educação.

Esse reconhecimento não vem com o objetivo de contar vantagem, mas sim justificar parte do que hoje considero como “meu sucesso”.

Ele vem como gratidão e humildade por saber que, por mais que tenha me esforçado para conquistar o que hoje tenho, a fundação que tive me deu uma chance muito maior.

Inicio assim essa reflexão hoje pois quero comentar um pouco sobre o assunto. Tem gente que acredita tanto na meritocracia que acaba esquecendo que tudo na vida depende do ângulo que escolhemos observar.

O meme “Foi por que eu mereci” mostra muito a forma como tendemos a olhar só para nosso próprio umbigo na vida e, também por isso, esquecemos de ser gratos por aquilo que já temos.

Essa reflexão de hoje parte de um questionamento que tenho me feito. Recentemente tive uma decepção profissional, mas por causa de um hábito que faço antes de dormir eu me dei conta que não estava sofrendo tanto com essa decepção quanto talvez sofreria em outra época.

Quero compartilhar com você isso.

O que é ter privilégios

Privilégio é uma condição de vantagem que uma determinada pessoa ou grupo de pessoas possui em comparação a outras. O privilégio, portanto, depende de outras pessoas não compartilharem dos mesmos benefícios sociais, oportunidades, destaques ou até leis das quais o(a) privilegiado desfruta.

Isso significa que o privilégio é diferente em cada cultura ou local no mundo e que também é em constante transformação – dependendo de como a própria sociedade entende as classes de poder em determinado momento.

Privilégios e Nossas conquistas próprias

Tudo que fazemos na nossa vida é mérito apenas nosso? Se você passou no vestibular para uma Universidade Federal bem conceituada, conquistou um trabalho que paga bem, cativou amigos e tem bons relacionamentos; é tudo mérito seu?

Por um lado, sim. Mas por outro, não.

Nossos esforços são reais. Nossos dramas são reais. Nossas dificuldades e superações são reais.

Se hoje eu posso trabalhar a hora que desejo, de onde desejo e para quem eu desejo, é sim porque eu investi, arrisquei, me esforcei e confiei na minha interpretação do que é sucesso.

Por experiência, eu consigo apontar atitudes, maneiras de pensar e ações que não só me colocaram nessa posição como também já observei e ‘comprovei' que colocam outros num caminho próspero.

Ao mesmo tempo, se eu não compreender o que a vida e outras pessoas fizeram por mim, eu posso cair na armadilha de achar duas coisas:

  1. Minhas experiências na vida são frutos das minhas decisões apenas.
  2. Se qualquer pessoa se esforçar como eu, vai conquistar o que eu conquistei.

De bônus, ainda podemos crer numa outra armadilha:

  • Esquecer de ser grato.

Chegamos então em mais uma reflexão aqui no blog em que temos que conviver com a contradição.

Meritocracia existe sim e, ao mesmo tempo, privilégios dão vantagens para quem tem uma estrutura melhor.

A loteria do berço e o privilégio

Considerando as pessoas que leem meu blog atualmente, há grandes chances de você também ter sido privilegiado na loteria do berço.

A loteria do berço é tudo aquilo que temos na vida que ou é considerado por nossa cultura como vantajoso ou, de fato, nos abre mais oportunidades e possibilidades. Também, são características que nem questionamos muito pois já nascemos com elas.

Alguns exemplos:

  • Família estruturada
  • Amor em casa
  • Educação de qualidade
  • Atenção dedicada
  • Cor da pele
  • Sexo
  • Identificação de gênero

Sugiro assistir esse vídeo rápido abaixo, pois ilustra muito bem essa situação.

Assim como não controlamos nossos privilégios de nascença, também não precisamos nos sentir culpados por tê-los.

O que não acho bacana, no entanto, é ignorarmos ele e acharmos que os desafios de quem não tem privilégios são iguais aos nossos ou que todos temos as mesmas chances de sucesso na vida.

O primeiro passo: Gratidão

Eu comentei acima que, mesmo com sentimentos de fracasso por causa de um projeto profissional ainda não bem sucedido, eu não me senti tão mal.

Todas as noites eu tenho o costume de beber um copo d'água antes de dormir e agradecer pelas coisas boas do meu dia.

Agradeço pela saúde, pelas pessoas, pelo carinho, pela existência, por ter um teto para morar, por ter alimentos em casa, por ter apoio e por aí vai.

Essa prática, mesmo que às vezes eu não coloque muita atenção plena, ainda assim me traz para uma condição de apreciação e gratidão pelo que tenho.

Os desafios do dia a dia podem muitas vezes tomar conta da nossa atenção e dos nossos sentimentos, mas, quando lembramos que são apenas um pedaço da vida, temos a oportunidade de colocar esses problemas em perspectiva.

Se minha cabeça fica apenas focada no problema, ele parece ser a maior coisa do mundo. Agora, se eu coloco o problema em comparação com o que existe de bom na minha vida, ele fica menor.

Nesse sentido, acho que é importante não só agradecer por aquilo que conquistamos com nossos próprios méritos. Acho importante também o sentimento de gratidão por aquilo que temos de presente na loteria do berço e da vida.

Quanto mais gratidão, mais podemos focar no que é positivo e, com isso, contribuir com o mundo com mais amor.

privilégios

O segundo passo: Ajudar

Há um tempo mandei um e-mail para minha lista falando que tenho como objetivo sempre deixar uma outra pessoa que se relaciona comigo num estado mais positivo. É um desafio grande pois nem sempre eu estou 100% empolgado e animado para isso.

No entanto, com o treinamento de gratidão é um tanto mais fácil e possível conquistar esse objetivo.

O exercício de levar positividade para outra pessoa tem muito a ver com nossos privilégios. Afinal, se temos mais condições de sermos gratos por aquilo que temos, também podemos mudar o nível de privilégio de outra pessoa que talvez não tenha muitas razões para ser grata.

Isto é, se você pode levar um sorriso, um gesto de atenção, carinho, confiança ou até informação adiante, fará uma diferença enorme no mundo.

Divirta-se!