No mês passado, Brett Adcock, fundador da startup de robótica Figure AI, afirmou que sua empresa “é agora a ação privada mais procurada no mercado secundário.”
No entanto, a empresa enviou cartas de cessar e desistir para pelo menos dois corretores que atuam em mercados secundários. Esses corretores afirmaram que as cartas exigiam que parassem de comercializar as ações da companhia.
Ambos relataram que receberam as cartas pela primeira vez após a divulgação, em meados de fevereiro, da intenção da Figure em realizar uma captação de US$ 1,5 bilhão, com avaliação de US$ 39,5 bilhões – um aumento de 15 vezes em comparação com a avaliação de US$ 2,6 bilhões alcançada em fevereiro de 2024.
Um porta-voz da Figure AI explicou que a empresa envia essas cartas quando um corretor não possui autorização para comercializar suas ações. Segundo o porta-voz, “este ano, ao descobrir que um corretor terceirizado não autorizado estava comercializando ações da Figure sem a aprovação do Conselho de Administração, a empresa enviou uma carta de cessar e desistir solicitando a interrupção, conforme já havia feito anteriormente quando outros corretores não autorizados foram identificados. Não permitimos negociações no mercado secundário de nossas ações sem autorização do conselho, e a empresa continuará se protegendo contra corretores indesejados.”
Sendo a Figure uma empresa privada, suas ações não podem ser vendidas livremente pelos investidores, especialmente sem um evento autorizado pela companhia. Essa restrição deu origem aos mercados secundários, que oferecem aos investidores alternativas para obter liquidez de suas ações antes de um IPO, como empréstimos garantidos pelas suas ações que se tornam exigíveis quando a empresa abre capital.
Os mercados secundários que receberam as notificações afirmaram ter outras teorias sobre o motivo pelo qual alguns CEOs não aprovam a comercialização de ações nesses ambientes. Segundo os corretores, acionistas existentes buscavam vender suas ações por um preço inferior à avaliação ambicionada de US$ 39,5 bilhões, e algumas empresas se incomodam com a possibilidade de que essas ações secundárias com preços mais baixos possam concorrer com a nova rodada de captação.
Sem comentar especificamente o caso da Figure, Sim Desai, fundador e CEO do marketplace de ações secundárias Hiive, afirmou que, às vezes, as empresas bloqueiam vendas diretas no mercado secundário porque enxergam “isso como um jogo de soma zero.” Desai acrescentou que o inverso também pode ocorrer: uma negociação ativa no mercado secundário pode, inclusive, atrair mais interesse para uma nova captação de ações primárias.
Entretanto, se a atividade no mercado secundário não conseguir fomentar interesse na rodada primária, o problema poderá estar na própria avaliação. “Se alguém tem dificuldade para vender algo, isso reflete mais uma questão de preço e avaliação do que de disponibilidade de capital”, concluiu.
A Figure também tem sido destaque em diversas matérias jornalísticas, que ressaltam o progresso da empresa com sua importante cliente, a BMW. Em resposta, a Figure afirmou que, em pelo menos um caso, a matéria continha tantas imprecisões que a empresa chegou a ameaçar medidas judiciais.
Quanto à quantia que a Figure AI irá captar a seguir – e a qual avaliação –, isso ainda está por ser determinado. Também permanece indefinido se os investidores atuais conseguirão obter liquidez antecipada por meio de transações no mercado secundário.