Engenheiro de Metaverso Demitido Revela que Está Fazendo DoorDash e Morando em um Trailer
Um engenheiro de software revelou que, embora já ganhasse seis dígitos trabalhando em uma empresa de metaverso, sua recente demissão o empurrou para uma realidade de grande precariedade, na qual ele depende de entregas de comida pelo DoorDash, vendas de itens pessoais no eBay e mora em um trailer.
Há cerca de doze meses, o que parecia ser uma carreira consolidada tomou um rumo inesperado para esse profissional, cuja situação, até pouco tempo atrás, seria considerada improvável para um engenheiro de software experiente. Na era da inteligência artificial, ele teme que casos como o seu se tornem mais comuns, à medida que empresas de tecnologia aceleram a substituição de colaboradores por algoritmos.
Em um relato enviado por e-mail, o engenheiro explicou que sua demissão ocorreu na empresa Virbela, controlada pela eXp Realty, que oferecia soluções de metaverso para o trabalho remoto por meio da criação de ambientes virtuais que replicavam dinâmicas e interações sociais do mundo real. Nos meses que antecederam sua dispensa, seu trabalho passou a se basear cada vez mais em aplicações de inteligência artificial.
“Diferentes organizações se adaptam à tecnologia em ritmos diversos, e na nossa empresa estávamos entre os primeiros a adotar e integrar a IA. No primeiro ano após o lançamento do ChatGPT, os desenvolvedores conseguiam aumentar sua produtividade de 3 a 10 vezes com a assistência da IA”, relata. Segundo ele, chegou a um ponto em que ficou claro que não seria mais “negócio como sempre foi”.
No seu time, houve uma mudança estratégica para que quase todos os desenvolvedores se dedicassem à integração de recursos de IA ao produto de software já existente. Porém, não muito tempo depois, durante o auge do entusiasmo pela tecnologia, a empresa acabou demitindo parte dos desenvolvedores de diversas equipes, inclusive do grupo em que ele atuava. Ainda que ele não tenha conseguido precisar a porcentagem de colegas dispensados, os cortes ocorreram simultaneamente em vários setores.
Embora não esteja totalmente claro se a implementação da IA foi o fator determinante para sua demissão, o caso reflete um fenômeno que vem se repetindo. Nos últimos dois anos, várias empresas de tecnologia passaram por rodadas históricas de cortes, à medida que buscavam a automação de processos e a substituição de mão de obra humana. Diversos relatos apontam que profissionais de empresas renomadas também têm sido impactados por essa mudança.
O engenheiro, que tem compartilhado sua “deslocação” causada pela automação em seu blog pessoal, contou que atualmente sua renda diária, oriunda de entregas de comida, não ultrapassa 200 dólares. Além disso, ele teve de recorrer à venda de itens pessoais no eBay para complementar a renda.
Apesar de possuir vários imóveis, ele ressalta que a propriedade não garante estabilidade financeira. Uma de suas propriedades abriga sua mãe, que é portadora de deficiência, e vendê-las no momento representaria grandes dificuldades econômicas. Atualmente, ele vive num pequeno trailer localizado em uma das propriedades no interior de Nova York.
“Estou vivendo no trailer porque algo mudou na sociedade nos últimos 2,5 anos — algo que levou a empresa e a uma grande parcela das equipes talentosas de desenvolvedores a serem demitidas, mesmo num momento em que a companhia e sua controladora estavam indo muito bem”, afirma. Ele se refere a essa mudança como a “grande deslocação”, um movimento que vem direcionando a economia cada vez mais para a automação, afastando o trabalho humano.
A busca por um novo emprego também tem sido dificultada pelo próprio avanço da inteligência artificial. O engenheiro suspeita que seu currículo esteja sendo filtrado por algoritmos que buscam termos específicos relacionados à IA. “No último ano, participei de entrevistas em cerca de 10 empresas, chegando duas vezes a uma quarta fase e outras vezes a rodadas intermediárias, mas não obtive nenhuma proposta”, afirma. Segundo ele, o fato de seu currículo não mencionar termos altamente específicos e de ponta pode ser o motivo pelo qual ele não é selecionado.
Para se manter competitivo no mercado, ele tem se dedicado intensamente ao estudo da inteligência artificial, chegando a investir de 2 a 5 horas diárias acompanhando notícias, artigos e podcasts sobre o tema. Nesse período, criou aproximadamente 10 pequenos repositórios de código gerados 100% por IA, aproveitando todas as oportunidades de testar novas ferramentas gratuitas.
Mesmo enviando quase 900 candidaturas, ele ainda não conseguiu uma nova colocação profissional. “Este relato não é para buscar piedade ou desculpas, mas para compartilhar minha trajetória real de como passei de um tecnólogo altamente valorizado a praticamente nada em apenas um ou dois anos com o avanço da IA”, ressalta.
Em um e-mail, o engenheiro destacou que o mercado de trabalho na área de software nunca pareceu tão desolador. Ele alerta que sua experiência pode ser apenas o começo de uma onda iminente de desastres sociais e econômicos, que já começou entre trabalhadores do conhecimento e profissionais criativos e tende a atingir a todos, com o tempo.