Nesse artigo vou explicar como ser autodidata e como acredito ser um bom jeito de se desenvolver pessoalmente e profissionalmente com essa habilidade.
Como parte do caminho básico para todo tipo de profissional, esse é um conteúdo muito importante para iniciantes e também para quem já é um pouco mais experiente mas teve a maior parte do conhecimento obtivo através de cursos e universidades – ou seja, através de um currículo pré-estabelecido.
Ao contrário do caminho mais ‘tradicional’ eu sempre fui autodidata. Já fui por caminhos que não me levaram a lugar nenhum e outros que fizeram meu desenvolvimento ser exponencial. Aqui vou compartilhar também uma visão mais pessoal do que funciona para mim, algumas dicas que coletei ao longo dos anos e também furadas que não desejaria que você entrasse.
Esse artigo também faz parte do guia Como se tornar um desenvolvedor e está no caminho iniciante básico para qualquer desenvolvedor.
O que é autodidata?
Autodidata significa você aprender algo por si só. Isso não significa aprender só por experiência, mas sim saber usufruir dos conhecimentos espalhados em livros e na internet para se desenvolver em algum assunto específico.
Por exemplo, você pode quere aprender mais sobre marketing. O caminho autodidata seria encontrar recursos (livros, artigos, vídeos, podcasts, etc) relacionados com o assunto e seguir seu próprio caminho de aprendizagem com eles.
Tipos de aprendizado autodidata
Acredito que podemos seguir duas linhas principais de jeitos de aprender. De um lado temos o aprendizado de um currículo definido e do outro aprendizado por problema. Um não impede o outro, mas sim o complementa em grande parte das vezes. Vamos ver em detalhe cada um.
Aprendizado com um currículo pré-estabelecido
Quando fazemos um curso – seja ele online, presencial, de universidade ou até mesmo no YouTube – em geral seguimos uma série de conhecimentos que o professor ou instituição que está dando o curso estabeleceu. Esse currículo muitas vezes segue as principais habilidades e conhecimentos que devemos aprender para sermos um bom profissional.
Digamos que se você fizer um curso sobre Design, provavelmente aprenderá sobre Teoria das Cores, Ilustração e Desenho Técnico pois são fundamentais para a formação de um designer.
O aprendizado com um currículo pré-estabelecido é muito legal pois facilita a seleção de conceitos e conhecimentos que devem ser absorvidos, mas ao mesmo tempo são generalistas e não conseguem aprofundar a não ser com muito tempo de estudo.
Como autodidatas, podemos tirar proveito desse tipo de currículo quando fazemos algum curso online ou buscamos referências de caminhos com outras pessoas do que estudar.
Aprendizado por problemas
Aprender por meio de um problema é a forma mais direta de se obter um conhecimento prático e objetivo. Ao mesmo tempo é a mais difícil e arriscada.
Um problema é tudo aquilo que você deseja fazer mas não sabe como. Quando eu comecei a fazer websites eu não sabia por onde começar. Já tinha feito um curso básico de lógica de programação, mas, fora isso, nada mais. Então comecei a explorar por soluções na internet que me ajudavam a chegar mais perto de completar minha tarefa.
A partir de um desafio corri atrás online, com amigos ou com professores para aprender como resolvê-lo. O resultado foi uma jornada interessante com dois pontos:
- Consegui completar o website em um tempo razoável e aprendi muito sobre o processo para depois fazer outro site parecido.
- Explorei alguns conceitos que não foram muito úteis e também fiquei sem saber se o jeito que fiz foi o “mais correto”.
Então no final das contas eu expandi minha área de conhecimento e consegui terminar o site com certa velocidade, mas o risco tomado foi perder tempo com alguns assuntos que não serviram para nada e, principalmente, sem saber se o jeito que fiz o site foi o melhor.
Aprendizado misto
Como tudo na vida, o equilíbrio acaba sendo a melhor opção. Se misturarmos as duas formas de aprender vamos ter os melhores resultados.
De um lado podemos ter o suporte de um caminho básico a se seguir. Um guia com informações essenciais que precisamos aprender para sermos bons em uma área ou assunto. De outro, quanto mais conhecemos mais podemos opinar também se precisamos ou não aprender determinado assunto e então focar em usar problemas reais para nos guiar para onde devemos focar nossos esforços.
Mentalidade do(a) pesquisador(a) autodidata
Para que seu desenvolvimento como profissional em qualquer área seja desafiador, divertido e consistente você precisa realmente ter um tesão especial por crescimento pessoal e profissional.
No nosso caso, uma das formas que expressamos nosso crescimento é através da criação de projetos, programas e código. Para alguns essa expressão vem através de uma busca pelo código perfeito, rápido, otimizado e lindo de se ver. Para outros é demorar o menor tempo possível para criar um projeto.
A constante aqui é querer ser sempre melhor no que faz e essa vontade só depende de nós mesmos para ser transformada em realidade.
A pesquisa entra como uma super ferramenta para o crescimento. Pesquisar nada mais é do que buscar um conhecimento que ainda não possui através de estratégias pensadas. Temos um problema, formulamos uma hipótese, buscamos informação, testamos e aí sim chegamos a uma conclusão. Essa conclusão é então usada como informação e base para mais pesquisas.
Ao contrário de um trabalho na escola ou na universidade, o processo de pesquisa autodidata não terá uma orientação ou alguém para avaliar o seu trabalho e sua metodologia, então é importante entender bem essa dinâmica na hora de começar a estudar programação por si mesmo.
Vamos a um exemplo que aconteceu comigo no meu aprendizado para me tornar um desenvolvedor web:
Problema
Um dos primeiros desafios que tive quando estava aprendendo programação web foi adicionar um domínio no meu site. Eu não sabia exatamente como funcionava esse processo e só tinha à disposição as ferramentas do meu servidor compartilhado que tinha comprado.
Hipótese
Pensei então que se eu pesquisasse no google algo como “Como funciona domínios de sites” ou “Como adicionar um domínio ao meu site” eu teria as informações que precisaria.
Busca por informação (pesquisa)
Ao fazer as pesquisas no Google eu me deparei com conceitos como:
- DNS
- Resgistro de domínio
- Direcionamento de domínio
- CNAME
- Registro A
- Name Server
- Naked domain
E ao mesmo tempo alguns tutoriais fáceis como:
- Como adicionar o domínio próprio no seu servidor
Nesse momento temos a escolha mais importante para nosso crescimento pessoal e o que vai determinar nosso real avanço: Eu tive duas opções:
1- Usar o tutorial fácil para adicionar o domínio ao meu website
2- Aprofundar em cada um dos conceitos que me deparei nas pesquisas.
A resposta mais fácil seria já matar minha dúvida e seguir com a adição do domínio com o tutorial. Porém, a resposta que insisto que escolham é a de se aprofundar nos principais conceitos que aparecerem e que ainda não entende bem. Abaixo vou explicar um pouco como faço esse processo para não nos perder demais.
Teste
Depois de aprender o que foi necessário durante a pesquisa, resolvi testar adicionando realmente um domínio ao meu website. Existe uma série de diferenças entre a teoria e a prática, então essa etapa tem que ser abordada com bastante tranquilidade e receptividade pelo erro.
Erros vão acontecer – e muitos. Então deixar o estresse fora da jogada é importante para que a aprendizagem aconteça com velocidade e sem julgamentos internos.
Conclusão
Depois que consegui fazer o domínio funcionar eu acumulei uma série de conhecimentos precisos. Todas as outras vezes que mexi com domínios depois foram bem mais diretas e pude aprofundar em outros conceitos mais avançados e relacionados.
O mais interessante aqui é que essa pesquisa sobre domínios complementa muito outras investigações. Algum tempo depois eu tive um problema para resolver que era a customização de um e-mail com o meu domínio próprio. Durante o processo de busca por informação me deparei com diversos conceitos similares, como o DNS, e é através desse processo científico que vamos construir nossa base de conhecimento autodidata.
Ciência que você falou?
Exatamente. Esse processo nada mais é do que a base para a metodologia científica de investigação e busca por conhecimento. Conclusões passadas viram informação para novas pesquisas e assim vamos construindo conhecimento.
E, assim como a ciência, não existe uma verdade que não possa ser refutada. Ou seja, a tecnologia está em constante mudança e os conceitos sempre vão mudando e se transformando.
Técnicas que antes eram válidas, hoje apresentam uma falha de segurança. Conceitos que antes significavam algo, hoje tem um sentido diferente. Linguagens de programação que eram populares, hoje são ineficientes.
Retomar e sempre nos questionar dos nossos conhecimentos é uma prática necessária.
Para completar essa mentalidade do pesquisador autodidata, quero mencionar que ser autodidata não significa aprender ou estar sempre sozinho. A comunidade online e presencial de desenvolvedores é muito ativa e sempre terá um tempo para ajudar. A diferença é que você que terá que apresentar os problemas e já ter demonstrado ter tentado achar a resposta sozinho.
O caminho de como ser autodidata
Indo direto ao ponto, se você buscar aprender sozinho qualquer tipo de assunto eu acredito que estará mais focado no que realmente importa e poderá se desenvolver no ofício com mais agilidade.
Deixo claro que estou focando apenas nas habilidades técnicas e não um bom profissional. Ser um bom profissional envolve muitas outras habilidades adjacentes como trabalhar em grupo, saber lidar com relações interpessoais, dedicação, se importar com o trabalho, etc. São elementos que cada um de nós precisa buscar, ser humilde e se abrir para eles.
A vantagem do caminho autodidata
Ser autodidata não é uma condição nata do ser humano. É uma habilidade que, mesmo que alguns tenham mais facilidade, pode ser aprendida e aperfeiçoada por qualquer um.
Como toda habilidade, ela exige muita dedicação e treino. Mas o retorno é incrivelmente vantajoso. Quando você é autodidata – principalmente nessa geração que estamos com o acesso à praticamente qualquer informação online – pode aprender inúmeros ofícios sem precisar de investimentos grandes.
Ao invés de pagar mil reais em uma mensalidade de um curso presencial, você pode pagar 100 ou mesmo não pagar nada e ter acesso aos conhecimentos. Muitas universidades já gravam seus cursos e disponibilizam online gratuitamente e existem outras empresas especializadas que possuem seus próprios cursos.
Aliando essa capacidade de aprender sozinho com um caminho claro do que deve estudar, temos um desenvolvimento focado, objetivo e rápido.
Como ser autodidata e seus desafios
Pensando no meu próprio caminho de aprendizado autodidata, os dois maiores desafios são:
- Persistência/disciplina
- Saber o que aprender
A parte da disciplina eu posso ajudar com alguns desses artigos aqui no blog:
Porém, disciplina e persistência é uma luta diária contra a procrastinação. A internet é um mar de possibilidades para distrair a cabeça, então aprender algumas técnicas de foco e bloqueio de distrações pode ajudar muito aqui.
Já com relação ao que aprender vai depender imensamente da sua área. Quando eu comecei a fazer websites eu não tinha ideia de por onde começar. Fui até o YouTube para ver alguns cursos, li artigos, fiz cursos online no Lynda, Udemy e outros e até participei de fóruns para fazer perguntas.
Mesmo assim a cada novo conteúdo que eu assistia ou lia vinham 10 novos impedimentos. Quando digo impedimento me refiro a algum tipo de conceito, conhecimento ou habilidade que eu ainda não tinha e precisava me aprofundar mais.
Temos aqui um artigo se você quer saber mais sobre os caminhos para o desenvolvimento web.
Métodos de organização do conhecimento
Uma vez que já estamos pesquisando e aprendendo é bem comum nos desorganizarmos e ficarmos um pouco perdidos como mencionei na parte anterior. Para isso vou compartilhar duas formas que acredito serem bem interessantes de organizar melhor o conhecimento tanto aprendido quanto a se aprender. Em especial isso é importante para o aprendizado por problemas, mas também é interessante para poder depois entender o seu caminho e até ajudar outras pessoas que querem se desenvolver na mesma área que você.
Mapa mental
Um dos jeitos que mais gosto de pensar no desenvolvimento de um conhecimento é através de um mapa mental. Além de ser uma forma bem interessante de organizar, também nos ajuda a memorizar os conceitos uma vez que nossa cabeça também funciona como um mapa mental (daí o nome).
Vamos pegar por exemplo o “Conhecimento X”:
Quando comecei a estudá-lo percebi que precisava saber o que era o conceito A e C. Aprendi o C e estou aprendendo o A. Pouco depois também vi que tinha o conceito B. Ao começar a estudar o Conceito A eu vi que tinham 4 sub-conceitos que também não conhecia e fui atrás deles.
Esse tipo de organização é interessante para poder garantir que tudo que você encontra em suas pesquisas seja anotado e controlado para saber ou não se está aprendendo. Nessa imagem acima, por exemplo, marquei com a cor verde tudo aquilo que já entendo e com vermelho o que ainda falta aprofundar e entender.
Quando digo um “Conceito”, quero dizer qualquer tipo de informação que é preciso ser absorvida.
Além disso, seguindo a lógica científica, vamos ver que alguns conceitos vão se esbarrando e complementando. Uma forma de organizar isso no mapa mental é com conexões.
Resumos
Algo que só aprendi um pouco depois do que gostaria é o poder de resumos. Ao aprender um determinado conceito, assunto ou técnica é muito legal fazer um breve resumo e anotar em um local de fácil acesso.
Existem vários serviços online e no computador que podem te ajudar a fazer um controle de informações dessa maneira. Minha sugestão é o Evernote pois além de ser gratuito para grande parte de seus recursos ele tem uma pesquisa muito rápida e meios de organizar o conteúdo de forma efetiva. Também One Note, Google Drive e até um processador de texto podem funcionar.
Um jeito de garantir que não vá pudar essa etapa é só poder marcar no seu mapa mental que aprendeu um conceito após fazer um breve resumo.
O poder dos resumos são os seguintes:
- Gravamos melhor os conceitos ao escrever depois de aprender.
- É fácil de relembrar em caso de esquecimentos sem ter que refazer a pesquisa inteira de novo.
- É simples de atualizar com novas informações e também criar conexões com outras notas e resumos.
- Pode servir como base de conteúdo para criação de artigos se quiser fazer um blog ou compartilhar com outros.
Estabeleça metas
Um dos grandes inimigos do aprendizado autodidata é a procrastinação. Em especial por isso mencionei anteriormente do interesse e tesão que temos que ter no nosso crescimento pessoal e profissional. Sem isso vamos acabar abrindo uma série nova do Netflix a cada dificuldade.
Uma dica legal para vencer sempre esse inimigo é estabelecer metas. Objetivos assim devem ter algumas características:
- Uma descrição clara do que significa bater a meta
- Prazo desafiador, mas atingível, para finalizar
- Entendimento de como essa meta influencia no objetivo geral – o porquê de sua existência.
Naturalmente, existem várias formas de organizar objetivos maiores e menores. Algumas ideias se você quiser se aprofundar:
- GTD
- OKR
- Agile
Essas são algumas metodologias de gestão de tarefas, mas servem bem para o uso pessoal quando bem aplicadas. Quanto mais se estuda sobre isso, melhor saberá como você funciona e o que é mais efetivo.
Não se frustre
Me lembro quando comecei a estudar por conta própria um dos primeiros desafios que tive foi a frustração. Coloquei como meta fazer um site tipo blog em uma semana e acabei me frustrando por não conseguir bater. Depois falei que ia estudar 5 horas todos os dias e me frustei também quando passou um dia que estudei só 2. Muitas outras vezes cometi o mesmo erro de criar uma expectativa irreal na cabeça e me frustar. O pior é que depois de uma frustração assim acaba vindo vontade de desistir – o que fiz muitas vezes – até que apareça uma nova vontade de criar uma outra meta.
Lidar com a frustração e persistir é importante, mas também não criar metas inatingíveis. Estar consciente desse processo já é um avanço grande em direção ao sucesso do aprendizado autodidata.
Referências e comunidade
Todo assunto, técnica ou área de estudo tem suas referências e comunidade que a estuda e pratica. Quando começamos sozinhos no nosso caminho de aprendizado autodidata é muito agradável ter contato com mais pessoas e instituições que não só ensinam como discutem o assunto de nosso aprendizado.
Como desenvolvedor web eu fiquei em êxtase quando conheci os websites:
São sites que me proporcionaram com:
- Caminhos para o que aprender
- Validação se o que eu estava aprendendo tinha sentido
- Apoio da comunidade de desenvolvedores para me ajudar com problemas que não encontrava solução
Conheço websites similares para várias área de estudo, mas uma boa pesquisada no Google provavelmente vai lhe gerar muitas pistas de como a comunidade em volta do seu assunto de aprendizage se organiza.
Um bom lugar de início para procurar é no website Stack Exchange. Os websites da Stack Exchange funcionama como um fórum de perguntas e respostas para vários assuntos. Tem vários em português, mas a maioria está em Inglês.
Melhora contínua é a chave de como ser autodidata
Vimos no artigo várias questões que passam pelo processo de ser autodidata e saber pesquisar nós mesmos em direção ao que desejamos aprender.
Independentemente do que queira aprender, existe uma grande probabilidade que consiga obter as informações e aprendizados que deseja de forma autodidata. Naturalmente não serão todos os mercados que aceitarão “sua palavra” que sabe sobre um assunto ou mesmo que seja legal exercer uma profissão sem uma educação formal universitária.
Porém, a quantidade de empresas e profissões que dependem mais de seu portólio e de você mostrar que sabe ao invés de mostrar um papel está crescendo.
Podemos chegar muito longe somente com o aprendizado autodidata e metodologias que funcionam conosco para tanto nos estimular quanto sermos efetivos. Não é o único caminho nem necessariamente o melhor, mas é um caminho muito válido e profissional.
Conta abaixo nos comentários o que você está aprendendo de forma autodidata e quais são os seus desafios.
Divirta-se!