Em Agosto de 2016 eu e minha namorada – agora esposa – vimos por acaso um anúncio de uma passagem barata para os Estados Unidos e tivemos uma ideia: E se a gente passar um mês fora trabalhando como nômades digitais?

Esse foi o início do projeto mini-vidas e expliquei um pouco sobre ele nesse outro artigo.

Nesse artigo vou contar um pouco sobre como tomamos a decisão de sermos fisicamente livres em nosso jeito de viver e trabalhar. Comento alguns dos dilemas que apareceram, desafios que superamos e o por quê gostamos tanto desse estilo de vida. Espero que alguns dos aprendizados e informações aqui possam te ajudar a tomar decisões similares.

Como é muita coisa para contar, dividi em uma série de textos. Esse primeiro é cheio de reflexões sobre o processo de decidir ir numa viagem como nômade digital e também os preparativos.

Tomada de decisão

Na época eu e a Amanda trabalhavamos na mesma empresa. Eu como um dos sócios e ela com o atendimento de clientes. Essa empresa é uma imobiliária online e tinha a opção de trabalho remoto. Além disso também era sócio de uma agência de marketing digital. Em teoria, grande parte dos serviços que fazíamos podiam ser realizados de forma online, então conversei com meus sócios, tivemos um “ok” e compramos as passagens.

Se tem algo que como casal eu e a Amanda combinamos é uma apreciação pela mudança de rumo na vida quase que de um dia para outro. O tempo entre a primeira ideia de ir para os Estados Unidos e a compra das passagens não demorou mais do que uma semana. E da compra da passagem para a viagem em si? Pouco mais de 30 dias.

Explicando para família, amigos e sócios

Meu primeiro desafio veio na explicação para os meus sócios. O ano de 2016 foi extremamente cansativo e tenso. Depois da montanha russa de sentimentos de receber investimentos em uma das empresas e brigas judiciais em outra eu precisava de um momento de introspecção. Ao mesmo tempo, sabia que mesmo que as tarefas poderiam ser feitas online, minha contribuição não seria tão intensa quanto presencialmente nos escritórios.

Tive conversas complicadas com alguns dos meus sócios. De um lado é muito cômodo fugir das dificuldades do empreendedorismo, mas de outro eu comecei a me questionar que tipo de estilo de vida eu queria para mim. Queria ser sim um empreendedor, mas não um que se mata, não dorme e prioriza o trabalho acima de tudo.

Um aprendizado forte desse momento é sempre pôr os benefícios e consequências numa balança que tende a priorizar o nosso longo prazo e aquilo que é mais importante para nós. No meu caso, sempre busquei dar importância para a saúde e experiências novas. Quando coloquei a viagem em perspectiva com os 30 dias em que eu poderia não performar tão bem nas minhas empresas, valeu a pena. Não abandonei nenhuma responsabilidade, mas também não corri atrás de mais.

Imagino que para algumas pessoas a conversa com familiares e amigos pode não ser tão simples. Felizmente tenho parentes e amigos tranquilos e compreensivos. Inclusive, fizemos uma brincadeira com uma turma de amigos.

Nossos anfitriões em Chicago fazem parte, assim como eu, de um grupo chamado Badaba. Somos muito amigos há mais de 15 anos e acabou que hoje mais integrantes estão espalhados por diversos países e cidades pelo mundo do que em nossa cidade natal (Belo Horizonte). Para fazer uma surpresa, não contamos para ninguém que íamos viajar, nem para outro colega da turma que também mora em Chicago, e ao longo da viagem fomos soltando algumas fotos e dicas até que começaram a desconfiar. O mais especial foi dar um susto no amigo de Chicago que não sabia que estávamos lá.

Convencimento interno

Passagem barata não é estopim para virar um nômade digital. Só conseguimos tomar uma decisão tão rápida com relação à viagem porque já tínhamos uma vontade fazer algo parecido e, felizmente, também as condições de emprego, financeiras e emocionais para nos comprometer.

Quando eu penso hoje na situação me lembro de fazer contas de quanto teria que ganhar de dinheiro com trabalhos extras como freelancer para viabilizar a viagem. A conta bateu e, mesmo sem muita margem para erro, também assumimos a responsabilidade e o risco.

Tem algo que acredito muito: o poder da confiança. Sempre tudo vai bem e dá certo quando confiamos e também temos calma e responsabilidade para analisar o desafio. Além do mais, experiências que nos tiram da zona de conforto como essa em geral valem os riscos e custos.

Naturalmente esse é um convencimento interno. Uma interpretação do momento em que eu estava e ‘precisava’ de uma experiência desse tipo para me encontrar. Funcionou? Sim, mas não deixa de ser uma lógica que acreditei para me convencer. Esse é um processo que fazemos o tempo inteiro e quanto mais prática com humildade mais conseguimos ter clareza das nossas vontades e não tomar atitudes por impulso.

Preparação para a viagem a Chicago

Em primeiro lugar, por que Chicago? Para nós foi a união de três coisas:

  1. Amigos que poderiam nos dar um suporte
  2. Poder ficar na casa de um casal de amigos
  3. Valor da passagem

Pode parecer que os dois primeiros pontos são iguais, mas são diferentes e igualmente importantes. Passar um mês em outro ambiente que não conhece ninguém sem ser para férias não é simples. O conhecimento e companhia dos amigos que temos em Chicago foram sensacionais e fizeram da viagem ainda mais especial.

Ao mesmo tempo, não precisar gastar com hospedagem foi um grande viabilizador da viagem para nós.

Documentações e burocracias

Para viajar aos Estados Unidos é preciso ter visto e um passaporte válido com mais de 6 meses de validade. Felizmente tanto eu quanto a Amanda tinhamos isso na época. Alguns outros documentos que aproveitamos para separar em cópias físicas e digitais:

  • Fotos da identidade e passaporte
  • Cópia dos contratos sociais das minhas empresas
  • Seguro de viagem

Acredito que são documentos que hoje em dia não são tão necessários ter no formato físico, mas por uma sensação de segurança levei numa pasta organizada.

Algo que é muito importante para quem possui um negócio, mesmo que individual, é lembrar de levar os tokens de CPF e CNPJ caso precisem fazer alguma assinatura. Desde essa primeira mini-vida em Chicago eu tenho precisado usá-los para assinar digitalmente documentos e coisas do tipo.

Uma outra burocracia que é interessante também é deixar uma procuração assinada com alguém de confiança para qualquer eventualidade.

A mala

Em 2016 eu não entendia muito bem o conceito de minimalismo que hoje prefiro me identificar como adepto. Minha carga para passar um mês era composta de uma mala de 23kg e outra de 10kg.

Isso tudo só de roupas. Tinham sim algumas roupas mais pesadas por causa do frio e, se me lembro bem, alguns itens da Amanda. Mesmo assim é bem diferente da atual mini-vida em João Pessoa em que todas minhas roupas couberam em uma mala de mão de 9kg – isso para passar 3 meses…e contanto 3 calças jeans que não estou usando.

Acabei levando muita roupa que não usei tanto e esse foi um dos aprendizados interessantes, principalmente porque na volta cheguei no limite de peso considerando o que comprei por lá e tivemos até que deixar alguns itens pra trás.

A diferença para uma viagem de férias

A grande diferença de uma mini-vida para uma viagem de férias é que na mini-vida a vida continua normalmente.

É curioso, mas a sensação de viajar continuando a vida – só que em outro lugar – é bem diferente daquela quando vamos sair de férias. 30 dias pode não ser um tempo muito extenso, mas trabalhando e tendo obrigações do dia a dia a história é outra.

Para começar, a vontade de passear e procrastinar é bem maior. Tudo ao redor é novo, então até fazer supermercado vira motivo para conhecer coisas e lugares novos. Ao mesmo tempo, as tarefas continuam. Isso pra mim foi interessante pois a forma como reagi foi concentrando muito na hora de executar as tarefas com o incentivo de poder curtir mais depois. Naturalmente essa é uma vantagem que apenas quem possui um trabalho freelancer ou baseado em tarefas e não “hora-bunda”.

Pesquisa

Antes de fazer uma viagem para um lugar diferente – principalmente se nunca antes foi nesse lugar – é importante fazer algumas pesquisas. Em breve vou linkar aqui um outro artigo que estou escrevendo que explora melhor esse tópico a partir dos aprendizados mais recentes.

Na época estávamos mais preocupados com:

  • Coisas para fazer
  • Temperatura e tempo
  • Lugares perto de casa
    • Supermercado
    • Parques para correr
    • Restaurante
  • Atrações turisticas

Atualmente a lista é um tanto quanto maior, mas ainda em Chicago tínhamos o suporte de amigos que moravam lá, então foi bem mais fácil.

Acho que é importante sempre pesquisar sobre o lugar antes de ir. Da história do lugar a preferencias peculiares. Por exemplo, algo que busquei e adicionei à minha lista de afazeres foi visitar uma loja da LEGO.

Algo que não pesquisamos na época mas hoje recomendo muito é por atrações, eventos ou qualquer outro tipo de situação especial que possa acontecer na cidade enquanto está por lá.

Outra coisa que hoje faz sentido para nós é pesquisar por ambientes que sejam favoráveis com veganos e com alimentos saudáveis. Isto é, que tenham opções sem carne ou derivados já que levamos um estilo de vida vegano-natural-saudável.

“huumm, saudade do Whole Foods”

Próxima parte: Vida em Chicago

O próximo artigo da série tem como foco a vida em Chicago. O que há de interessante para fazer, quais foram as principais dicas e descobertas que fizemos na cidade e também minha impressão geral vivendo como nômade digital.

Se você curtiu esse post e ficou interessado em saber um pouco mais não deixe de acessar os próximos e comente abaixo.

Divirta-se!