Eu tenho uma mania de planejamento.
Adoro.
Mapas mentais, fluxogramas, gráficos, diagramas, kanban, etc. Tudo aquilo que tem a ver com organização de informações é comigo mesmo.
Naturalmente, quando soube que ia ser pai minha cabeça já entrou no modo:
“Oba! Algo interessante para planejar!”
Junto com minha esposa criei listas de enxoval, lista de nomes e planejamentos dos próximos meses. Abri uma pasta no meu Notion e parti para a ação.
No entanto, percebi que estava começando a empolgar demais quando me vi listando aquilo que eu gostaria de ensinar para meu filho ou fazer com ele.
Começou com uma lista mais conceitual e ética:
- Altruísmo
- Humildade
- Liderança
- Doação
- Amor
Aí logo ela passou para ensinamentos importantes para a vida:
- Nutrição
- Vida em comunidade/civilização
- Idiomas
- Produtividade
- Lógica
- Coordenação motora
- Hábitos
- Artes Marciais
E então o negócio desandou:
- Gestão de projetos
- SMART Goals
- Gestão financeira
- Interpretação de texto
- Marketing
- Personal Branding
- Empreendedorismo
E nesse momento entendi que não preciso planejar para os próximos 15 anos como e o que ensinar para ele.
A vontade é nobre.
Quero ensinar para ele tudo aquilo que eu considero que é ou foi importante na minha jornada.
E fazer uma lista assim serve como uma checklist para eu não esquecer de nada.
No entanto, eu acho ela também reflete uma certa ansiedade e presunção.
Digo isso por duas questões:
- É preciso ter um equilíbrio entre o planejamento e a improvisação. Planejar demais é pedir para se frustrar e improvisar tudo é depender da sorte demais. O meio do caminho é mais interessante. Por exemplo, posso planejar atividades e ensinamentos para cada ano e bolar formas delas serem introduzidas paulatinamente.
- Eu não faço ideia de como meu filho vai lidar com cada uma dessas coisas. Uma mania que vejo muito e não quero repetir é de querer projetar no filho expectativas e vontades. E sobre isso quero elaborar mais abaixo.
Expectativas e imposição de vontades
Algo sobre expectativas e vontades dos pais que percebi nesses tempos é que o melhor que posso fazer para meu filho é dar presentes sem esperar nada em retorno.
Deixa eu explicar um pouco melhor.
Quando falo dar presentes eu quero dizer dar atenção, ensinamentos, sugestões, obrigações, sentimentos e também objetos.
Tenho lido e assistido alguns conteúdos sobre isso e percebo como certo na minha visão que ter expectativa é algo que não vai ajudar em nada no processo de ser um ‘bom pai'.
Ter expectativas e impor vontades são ações que deslegitimam o outro indivíduo.
No mundo ideal, eu gostaria de fazer tudo ao meu alcance para dar o melhor ensino e oportunidades para meu filho e deixá-lo escolher seu caminho.
Se ele não quiser seguir pelas minhas sugestões ou não quiser usufruir das oportunidades, deve ser tudo bem.
Obviamente, isso se aplica apenas àquelas coisas que não o coloca em risco ou vai prejudicá-lo de maneira alguma .
Se eu disser para não pular no buraco e ele quiser pular no buraco, haverá um impedimento contundente para que ele não caia no buraco de minha parte – digamos assim. Seguido, provavelmente, por conversas e explicações na busca por uma disciplina positiva.
Quando me refiro a expectativas e vontades, estou me referindo àquele tradicional:
- “Você vai fazer Medicina!”
- “Você tem que já está caminhando com 1 ano!”
- “Você tem que ser 100% educado com os outros independentemente da sua idade!”
- “Você tem que ser um excelente aluno!”
- “Você tem que fazer a atividade que eu estou mandando!”
- etc
São aquelas coisas que, como no meu planejamento, partem de uma vontade dos pais e também de formas como reproduzimos algumas coisas que fomos ensinados quando novos.
Expectativa é algo que temos quando esperamos que vamos mudar ou moldar o outro naquilo que nós consideramos importante.
Ou seja, é algo que implica que somos os mais certos e que temos o controle.
Como penso em agir
Eu sei que vou ter expectativas, mas tenho pensado muito em tentar já trabalhar minhas emoções e racionalidade para que eu consiga ao máximo não as expressar e também não me frustrar.
Imagine o seguinte cenário:
Meu filho tem 3 anos e está já falando um tanto bom de Inglês e um tanto a mais de Português já que eu uso métodos para criá-lo bilíngue.
Minha expectativa pode ser: “Ele vai ser tão bom em Inglês quanto em Português”.
No entanto, certo dia ele percebe que eu também falo Português e começa a questionar e não querer mais falar em Inglês comigo já que é, para ele, mais difícil e não está indo tão bem.
Eu tenho dois caminhos a seguir:
- O caminho da expectativa e imposição de vontades
- O caminho do presente e positividade
O primeiro caminho vai me levar imediatamente à frustração, colocar culpa e posso pensar: “Eu fiz algo errado!”, “Meu filho não é inteligente o suficiente”, “É culta da minha esposa que não fala Inglês com ele o suficiente”, etc.
Com esses sentimentos à flor da pele, posso começar a ficar nervoso, gerar brigas, forçar ações e, provavelmente, traumatizar o filho, fazendo-o ficar com birra com o Inglês ainda mais.
O segundo caminho vai provavelmente me deixar mais tranquilo. Como há uma vontade – que não é impositória – grande, mas não uma expectativa grande, os sentimentos são mais leves e os pensamentos já são como: “Deve estar sendo difícil pra ele uma vez que não vê tanta aplicabilidade da língua”, “Acho que vale a pena pensar em novas maneiras de fazê-lo achar o Inglês interessante”, “Vamos tenta mais, mas se não for algo que está bacana depois dessas tentativas e buscas, talvez seja melhor não avançar”, etc.
Eu continuarei achando que é importante para o futuro dele já saber o Inglês como uma segunda língua nativa, então vou insistir e buscar maneiras de conquistá-lo. No entanto, caso não dê certo depois das minhas tentativas e insistências amigáveis, posso buscar entender se vale ou não a pena desistir.
Como ele será ainda uma criança sem muita capacidade ainda de compreender a vasta dinâmica do mundo, pode ser que ainda insista nesse aspecto.
Mas pode ser que não e estará tudo bem também.
Ser mais leve e sem expectativas não significa não querer o melhor ou lutar por isso. Significa apenas não deixar as frustrações serem mais importantes do que o respeito, amor, paz e observação.
Como é a primeira vez que estou comentando sobre esse assunto, entendo que ainda há muitos dilemas e tudo isso mais uma reflexão do que um guia.
Mas é em cima dessas reflexões que acho que vamos melhorando.
Eu não tenho as respostas, mas quero conversar para chegar no meu melhor possível na hora de realmente passar aquilo que acho importante para meu filho (ou meus filhos).
Faz sentido? Quero saber e você também que está acompanhando sua opinião sobre essa reflexão. Deixa abaixo nos comentários ou me manda uma mensagem no Instagram.
Divirta-se!