E-mail – Reflexão da semana #19.
Com uma frequência maior do que gostaria, me pego julgando outras pessoas.
“Ah, aquele ali fez isso porque é imaturo.”
“Ela está agindo igual uma criança.”
“Vish, até hoje ele faz esse tipo de coisa!”
É como se houvesse uma lista de ações e características que são de criança e outras que são de adultos.
Fazer birra: Criança.
Ser responsável: Adulto.
Assistir desenho: Criança.
Tomar café: Adulto.
E por aí vai…
Naturalmente, tudo que está nessa lista é culturalmente definido. Jogar videogame, por exemplo, era algo de criança quando eu era criança. Hoje é algo de qualquer idade. A cultura mudou e a percepção dessa ação também. Agora, quem é de uma geração mais antiga continua achando que jogos são ‘coisa de criança'. Ou seja, ainda são da ‘cultura antiga'.
No entanto, minha reflexão hoje não é a respeito de transformação de cultura, mas sim do porquê algumas coisas são consideradas infantis e outras maduras.
Há um tempo, me vi na numa situação curiosa. Estava no trânsito parado no sinal e uma mulher, que antes estava parada também atrás do meu carro, bateu no meu. Ou seja, ela arrancou antes da hora ou perdeu o controle do carro por algum motivo.
Percebendo o tranco, assustei e logo puxei o freio de mão para ver o que tinha acontecido. Desci do carro para ver e inicialmente aparentou ser apenas pequenos arranhões na pintura. Olhei para a mulher e algo inesperado aconteceu:
Ela fez uma cara de desentendida e balançou a mão falando que não tinha acontecido nada. Naturalmente, não se deu o trabalho nem de pedir desculpas nem de dar satisfação alguma.
Cheguei ao lado da sua porta e, finalmente, ela desceu o vidro e verbalmente comunicou: “O que aconteceu? Eu não bati em você.”
Meu pensamento na hora: “É, deve ter sido o carro de trás ne? Ele escondeu atrás de você para não ser pego. Vou lá falar com ele…”
Depois de uma certa insistência, tentativa de me passar números falsos, tentativa de anotar o meu telefone na BUSCA de contatos do celular dela e outras coisas ridículas, saí com o seguinte pensamento na cabeça:
“Essa mulher de 40 ou 50 anos age como uma criança.”
O que me fez dar esse julgamento é a sua tentativa de passar a perna, mentiras e completo desinteresse no outro.
Ou seja, a junção desses julgamentos na minha cabeça associaram à ação que uma criança teria.
No meu condicionamento cultural, uma criança é aquela que “pode” e faz esse tipo de coisa. Porém, isso é uma injustiça com a criança. E em muitos casos injustiça com os adultos.
Fazer esse tipo de julgamento é duplamente ruim pois:
- A criança é muito mais inteligente e capaz do que imaginamos.
- Adultos crescem “com certeza” apenas em número de anos, não em autoconsciência. Então julgar alguém de imaturo signfica dizer que aquela pessoa não se desenvolveu emocionalmente ou conscientemente.
Tudo errado.
Outro ponto interessante sobre esse assunto é que, na minha visão do que é ser adulto e criança, vejo a inversão de julgamentos e papeis.
De um lado, vejo um homem agindo de forma infantil ao dizer “não levo desaforo pra casa”. Afinal, ao meu ver agir assim demonstra uma dificuldade de lidar com os seus próprios sentimentos. Algo que esperaria de uma criança que não teve tempo para amadurecer sua percepção de si mesma.
De outro lado, vemos uma criança chorar e o pai dizendo: “Quebrou seu brinquedo, ta vendo?! Tem que ser disciplinado e responsável pelas suas coisas. Como é que você faz isso?” Algo que, também no meu ver, é uma característica que deveria ser mais exigida de adultos e não de crianças, já que elas estão explorando o mundo ainda.
Para finalizar, sugiro pensar nos julgamentos não em termos de criança/adulto ou maduro/imaturo, mas sim em termos de desenvolvimento emocional.
Pode não mudar muito no quesito cultural já que o que cada um considera como desenvolvimento emocioal vai ser diferente do outro. No entanto, pelo menos estamos direcionando nossa atenção para um conceito mais estreito e que não tem a ver com a idade propriamente dita de uma pessoa.
No meu caso, o que eu considero como desenvolvimento emocional é a capacidade de compreender as situações e de agir de maneira positiva. Ações que partem de ódio, inveja, raiva, orgulho, desespero, violência e egoismo, por exemplo, me indicam um baixo desenvolvimento. Não é o sentimento em si, devo ressaltar, pois sentir isso e ser capaz de compreender esses sentimentos é parte de sermos humanos. No entanto, agir com base nesses sentimetnos sem um auto-questionamento é que é o grande problema.
Em um mundo ideal, eu não seria tão julgador. Estou batalhando, inclusive, para isso. Mas é uma desconstrução complexa e vai durar um tempo ainda para melhorar. Afinal, considero que estou pouco desenvolvido ainda emocionalmente nesse sentido.
Faz sentido? Você já pensou a respeito desse assunto? O que te faz julgar a ‘maturidade' ou ‘imaturidade' de outra pessoa?
Um abraço,
André
Divirta-se!.