Introdução

Mistral AI, a empresa francesa por trás do assistente de IA Le Chat e de vários modelos fundamentais, é oficialmente considerada uma das startups de tecnologia mais promissoras da França e, possivelmente, a única empresa europeia que pode competir com a OpenAI. Ainda que sua avaliação alcance US$ 6 bilhões, sua participação no mercado global permanece relativamente baixa.

O recente lançamento de seu assistente de chat nas lojas de aplicativos móveis gerou grande expectativa, especialmente em seu país de origem. Durante uma entrevista na TV, o presidente francês Emmanuel Macron chegou a dizer: “Baixe o Le Chat, criado pela Mistral, em vez do ChatGPT da OpenAI ou outra alternativa”, pouco antes da Cúpula de Ação em IA em Paris.

Apesar dessa atenção positiva, a Mistral AI ainda enfrenta desafios para competir com gigantes como a OpenAI, mantendo sua autoimagem como “o laboratório de IA independente mais ecológico e líder mundial”.

O que é a Mistral AI?

Desde sua criação em 2023, a Mistral AI levantou montantes significativos de financiamento, com a ambição de “colocar a IA de ponta nas mãos de todos”. Embora o slogan ressalte seu compromisso com a transparência na IA, não se trata de um ataque direto à OpenAI.

Seu assistente de chat, Le Chat, que é a alternativa ao ChatGPT, está disponível para iOS e Android. Em apenas duas semanas após seu lançamento móvel, o aplicativo alcançou 1 milhão de downloads, chegando ao topo dos rankings gratuitos na App Store da Apple na França.

Além disso, a Mistral AI conta com uma série de modelos, que incluem:

  • Mistral Large 2 – o principal modelo de linguagem de grande porte que substituiu o Mistral Large.
  • Pixtral Large – lançado em 2024 como uma nova adição à família de modelos multimodais Pixtral.
  • Codestral – um modelo generativo de IA voltado para programação.
  • Les Ministraux – uma família de modelos otimizados para dispositivos de borda, como smartphones.
  • Mistral Saba – focado na língua árabe.

Quem são os fundadores da Mistral AI?

Os três fundadores da Mistral AI possuem sólida experiência em pesquisa de IA em grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos, com operações significativas em Paris. O CEO Arthur Mensch trabalhou na DeepMind do Google, enquanto o CTO Timothée Lacroix e o diretor científico Guillaume Lample são ex-funcionários da Meta.

Entre os conselheiros fundadores, estão Jean-Charles Samuelian-Werve (também membro do conselho) e Charles Gorintin, da startup de seguros de saúde Alan, além do ex-ministro digital Cédric O, cuja participação gerou controvérsias por seu papel anterior.

Os modelos da Mistral AI são open source?

Nem todos os modelos são abertos. A Mistral AI diferencia seus modelos premium, cujos pesos não estão disponíveis para fins comerciais, dos modelos gratuitos, para os quais fornece acesso aos pesos sob a licença Apache 2.0.

Entre os modelos gratuitos, destaca-se o modelo de pesquisa Mistral NeMo, desenvolvido em colaboração com a Nvidia e lançado como open source em julho de 2024.

Como a Mistral AI gera receita?

Embora muitas das ofertas da Mistral AI sejam gratuitas ou contem com planos gratuitos, a empresa planeja gerar receita a partir dos planos pagos do Le Chat. Introduzido em fevereiro de 2025, o plano Pro do Le Chat custa US$ 14,99 mensais.

No segmento B2B, a Mistral AI monetiza seus modelos premium por meio de APIs com preços baseados no uso. Empresas podem também licenciar esses modelos, e a empresa provavelmente gera uma parcela significativa de sua receita por meio de parcerias estratégicas, algumas das quais foram destacadas durante a Cúpula de IA em Paris.

De modo geral, a receita da Mistral AI ainda estaria na faixa de oito dígitos, segundo diversas fontes.

Quais parcerias a Mistral AI fechou?

Em 2024, a Mistral AI firmou um acordo com a Microsoft que incluiu uma parceria estratégica para distribuir seus modelos de IA por meio da plataforma Azure, além de um investimento de €15 milhões. A Autoridade de Concorrência e Mercados do Reino Unido concluiu que o acordo não justificava uma investigação devido ao seu tamanho reduzido, embora tenha gerado algumas críticas na União Europeia, conforme noticiado pelo Euronews.

Em janeiro de 2025, a empresa assinou um acordo com a agência de notícias Agence France-Presse (AFP), permitindo que o Le Chat consultasse todo o arquivo textual da AFP, que remonta a 1983.

Outras parcerias estratégicas foram estabelecidas com o exército francês, com uma agência de empregos do governo, com a startup alemã de tecnologia de defesa Helsing, com a IBM, com a Orange e com a Stellantis.

Quanto a Mistral AI já captou em investimentos?

Em fevereiro de 2025, a Mistral AI havia levantado cerca de €1 bilhão em capital, aproximadamente US$ 1,04 bilhão pela taxa de câmbio atual. Esse montante inclui tanto financiamentos via dívida quanto diversas rodadas de investimento em capital realizadas em rápida sucessão.

Em junho de 2023, ainda antes de lançar seus primeiros modelos, a empresa captou uma rodada seed recorde de US$ 112 milhões, liderada pela Lightspeed Venture Partners, avaliando a startup, então com apenas um mês de existência, em US$ 260 milhões.

Seis meses depois, a Mistral AI fechou uma Série A de €385 milhões (US$ 415 milhões na época), com avaliação de US$ 2 bilhões, em uma rodada liderada pela Andreessen Horowitz (a16z) e com participação de investidores como Lightspeed, BNP Paribas, CMA-CGM, Conviction, Elad Gil, General Catalyst e Salesforce.

Um investimento conversível de US$ 16,3 milhões feito pela Microsoft, parte da parceria anunciada em fevereiro de 2024, foi apresentado como uma extensão da Série A, mantendo a avaliação inalterada.

Em junho de 2024, a empresa levantou €600 milhões por meio de uma combinação de equity e dívida (cerca de US$ 640 milhões na época). Essa rodada, há muito especulada, foi liderada pela General Catalyst, com uma avaliação de US$ 6 bilhões, contando com investidores notáveis, como Cisco, IBM, Nvidia, Samsung Venture Investment Corporation, entre outros.

Como seria uma eventual saída da Mistral AI?

Durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, em janeiro de 2025, Arthur Mensch afirmou que a Mistral AI “não está à venda” e que, evidentemente, o plano inclui uma oferta pública inicial (IPO).

Essa estratégia faz sentido, considerando o volume de recursos captados até o momento. Mesmo uma venda expressiva pode não oferecer múltiplos suficientemente altos para os investidores, sem contar as questões de soberania que podem surgir dependendo do comprador.

A única forma de acabar definitivamente com os rumores de aquisição seria ampliar a receita a níveis que justificassem, mesmo que remotamente, uma avaliação próxima a US$ 6 bilhões. De qualquer forma, os próximos desenvolvimentos devem ser acompanhados de perto.