O modo experimental de IA do Google direciona as buscas para um ecossistema fechado, espelhando o sistema do ChatGPT da OpenAI e o Perplexity, e pode representar um golpe fatal para a web aberta.
O novo recurso utiliza uma versão modificada do modelo Gemini 2.0, especialmente adaptada para processar múltiplas buscas relacionadas de forma paralela, permitindo responder perguntas complexas e com várias partes. De acordo com o gerente de produto do Google, Robby Stein, a tecnologia combina as capacidades agentivas do Gemini 2.0 com sistemas de informação do Google — como o Knowledge Graph, dados em tempo real e informações de produtos — para gerar respostas claras e compreensíveis. O acesso ao modo de IA requer uma assinatura premium do Google One AI, com testes iniciais restritos a usuários convidados através do ambiente Labs.
Além do novo modo de IA, o Google também está aprimorando seus recursos de “visões gerais de IA”, que já atendem mais de um bilhão de usuários. Com os modelos mais recentes do Gemini 2.0, essas respostas curtas passarão a oferecer melhor desempenho em programação, matemática avançada e consultas multimodais. Ainda, a empresa está expandindo o acesso para adolescentes e eliminando os requisitos de cadastro.
Controle de danos preventivo
O Google, que já enfrentou críticas por erros em seus recursos de visões gerais de IA, informou que o sistema recorre aos resultados tradicionais de busca quando há incerteza na resposta apresentada. Robby Stein ressalta: “Como acontece com qualquer produto de IA em estágio inicial, nem sempre acertaremos”.
Embora todos os mecanismos de respostas automáticas tenham demonstrado falhas, muitos usuários podem preferir respostas diretas por conta da conveniência – mesmo sem a certeza absoluta de sua exatidão. Questões sobre a responsabilidade em relação às informações geradas por IA também permanecem, especialmente quando erros têm impacto direto sobre indivíduos, como observado em outras ferramentas de busca autônomas.
Deserto Mundial da Internet
Para acalmar os proprietários de sites preocupados com a queda no tráfego, Stein enfatiza que “ajudar as pessoas a descobrir conteúdo na web continua sendo central para nossa abordagem, e com o modo de IA estamos facilitando a exploração e a ação”.
Entretanto, a realidade é outra. Pesquisas recentes de uma empresa de licenciamento de conteúdo indicam que mecanismos de busca baseados em IA, como os da OpenAI e o Perplexity, podem reduzir o tráfego de referência para sites de notícias e blogs em até 96% quando comparados à busca tradicional do Google. Mesmo uma queda de alguns pontos percentuais pode comprometer seriamente o ecossistema da web, enquanto a extração de conteúdo por sistemas de IA vem crescendo de forma acentuada.
Para os editores que dependem de tráfego, essa mudança representa desafios significativos. A OpenAI, por exemplo, já começou a adotar uma estratégia de “dividir para conquistar”, firmando acordos de licenciamento de conteúdo com grandes publicadores para alimentar seu mecanismo de respostas integrado ao ChatGPT. Com a mediação crescente do acesso ao conteúdo por meio da IA, há o risco de concentrar ainda mais o controle sobre a diversidade midiática e a pluralidade de opiniões nas mãos de poucas grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos.