À medida que a Intel recebe um novo CEO, um olhar sobre a situação da empresa

A gigante dos semicondutores Intel contratou o veterano Lip-Bu Tan para assumir o cargo de novo CEO. Essa mudança ocorre apenas três meses após a aposentadoria de Pat Gelsinger, que deixou tanto o cargo quanto o conselho de administração, sendo sucedido pelo CFO David Zinsner e pela vice-presidente executiva de relações com clientes Michelle Johnston Holthaus, que atuaram em conjunto.

Tan, que recentemente comandava a Cadence Design Systems, retorna à Intel num momento desafiador e de transformação para a empresa sediada no Vale do Silício, marcada por altos e baixos nos últimos anos.

Quando Gelsinger assumiu a liderança em fevereiro de 2021, a Intel já enfrentava dificuldades e estava ficando para trás em relação aos seus concorrentes na corrida dos semicondutores. Naquela época, a companhia ainda se recuperava da perda de oportunidades durante a revolução dos smartphones, somada a equívocos na fabricação de chips.

O setor dos semicondutores como um todo vivenciou um período de intensa transformação no final de 2020, com diversas operações de consolidação, como a aquisição da Xilinx pela AMD por US$ 35 bilhões e a compra da Maxim pela Analog por US$ 21 bilhões, entre outras movimentações significativas.

O legado de Gelsinger na Intel

Gelsinger iniciou sua gestão com energia ao anunciar um ambicioso plano de modernização conhecido como IDM (fabricação integrada de dispositivos). A primeira etapa consistiu em um investimento de US$ 20 bilhões para construir duas novas instalações de fabricação de chips no Arizona, com a meta de ampliar a produção nos Estados Unidos e globalmente.

Em 2022, foi revelada a segunda etapa desse plano, baseada em uma estratégia tripla para a fabricação de chips: explorar as próprias fábricas da Intel, recorrer a fabricantes globais terceirizados e desenvolver serviços de fundição personalizados. Como parte dessa iniciativa, a empresa anunciou a intenção de adquirir a Tower Semiconductor por US$ 5,4 bilhões para fortalecer sua estratégia em fundição. Entretanto, o negócio não prosperou por enfrentar barreiras regulatórias e acabou sendo cancelado no verão de 2023, o que comprometia os planos de modernização da companhia. Em setembro de 2024, a Intel iniciou a transição da sua divisão de fundição, a Intel Foundry, para uma subsidiária independente.

O período que antecedeu a saída de Gelsinger foi marcado por turbulências: o valor das ações despencou cerca de 50% ao longo de 2024, e, após resultados decepcionantes no segundo trimestre, foram anunciadas demissões que afetariam aproximadamente 15 mil funcionários. Na ocasião, Gelsinger explicou que a empresa teve dificuldades para aproveitar o boom da inteligência artificial, evidenciando um quadro de pessoal excessivo em meio aos desafios do mercado.

Rumores de mudanças e novos rumos

Após a saída de Gelsinger, a Intel viu os planos para sua fábrica de chips em Ohio serem adiados novamente, além de ter decidido não avançar com a comercialização dos chips de inteligência artificial Falcon Shores.

Com a chegada de Lip-Bu Tan ao comando, sinais de reviravolta começam a aparecer. A Intel concluiu um acordo com o Departamento de Comércio dos EUA para receber um subsídio de US$ 7,865 bilhões, destinado a impulsionar a fabricação de semicondutores no país por meio do Chips and Science Act; segundo informações do último trimestre, a empresa já recebeu US$ 2,2 bilhões desse montante. Além disso, a popularidade da placa gráfica Arc B580, que esgotou após avaliações iniciais positivas, demonstra uma nova dinâmica de mercado para a companhia.