Como um Armário de GPUs para Mineração de Criptomoedas Levou a um IPO de US$ 1,5 Bilhão

A CoreWeave começou a ser negociada na sexta-feira com mais um suspiro do que um grito de guerra. Na quinta-feira, a empresa precificou suas ações a US$ 40, abaixo da faixa anunciada de US$ 47 a US$ 50, além de ter reduzido o número de ações oferecidas.

No total, a CoreWeave conseguiu levantar US$ 1,5 bilhão e alcançou uma capitalização de mercado de US$ 14 bilhões no primeiro dia, em contraste com a expectativa de uma captação superior a US$ 3 bilhões e uma avaliação muito mais alta. As ações abriram a US$ 39 e fecharam a US$ 40, revelando uma recepção morna, mas marcando o maior IPO relacionado à IA até hoje e o maior lançamento de uma empresa de tecnologia nos EUA desde os tempos de 2021.

Sentado em um moletom branco comum, em uma sala de conferência sem grandes destaques e com um sotaque marcadamente de Nova Jersey, o Diretor de Estratégia, Brian Venturo, afirmou sentir-se extremamente sortudo. Ele conta que tudo começou quando ele e seus amigos de hedge funds tiveram muito tempo livre após uma empreitada anterior não ter saído como o esperado.

Na época, Venturo atuava como gestor de portfólio para o hedge fund do setor de energia, Hudson Ridge, fundado pelo cofundador e CEO da CoreWeave, Michael Intrator. Juntos, desenvolveram um modelo de machine learning para auxiliar na escolha de investimentos em um setor repleto de dados. Durante esse período, conheceram o cofundador Brannin McBee, que gerenciava a empresa de dados que utilizavam. Contudo, com o boom do fracking nos EUA, a Hudson Ridge foi encerrada, deixando muito tempo livre para a equipe.

Em seguida, voltaram sua atenção para o universo das criptomoedas. Inicialmente, o objetivo era entender a mineração a partir do lado das commodities – eles começaram a minerar utilizando uma mesa de bilhar em seu escritório em Manhattan. De forma surpreendente, uma única GPU se transformou em dez, essas dez viraram mil e, então, os equipamentos migraram da mesa de bilhar para um armário. “De repente, estávamos no lugar mais clichê possível: o porão da casa do meu avô em Nova Jersey”, brincou Venturo. Com o interesse crescente de amigos do setor financeiro, eles adquiriram ainda mais equipamentos.

Durante cerca de dois anos e meio, a equipe chegou a ser o maior minerador de Ethereum do mundo, contando, em determinado momento, com 50 mil GPUs de consumo da Nvidia. Esses chips, originalmente projetados para jogos em PCs e não para operar 24 horas em condições adversas – como em um armazém sem ar condicionado ou ventilação –, exigiram a criação de sistemas robustos, com automação e monitoramento intensivo, para suportar o uso contínuo.

A equipe sempre teve a ambição de utilizar seu império de GPUs para outros fins, como o treinamento de IA, mas primeiro precisavam aprender a implementar esse novo campo. Para isso, estabeleceram uma parceria com a EleutherAI, um grupo de código aberto que trabalhava em um modelo de linguagem de grande porte (LLM). A CoreWeave cedeu acesso às suas GPUs em troca de conhecimento em treinamento de IA, parceria que foi anunciada em 2022.

Segundo Venturo, a expectativa inicial era somente entender como funcionava a infraestrutura. Contudo, a EleutherAI já envolvia centenas de pessoas na criação de startups de IA, o que se transformou em um verdadeiro trampolim para o negócio. Essa colaboração atraiu startups que passaram a ser clientes pagantes, impulsionando de forma inesperada o negócio de treinamento de IA.

A Stability AI, por exemplo, conheceu a CoreWeave através da EleutherAI e tornou-se cliente. Em busca de mais capital para aperfeiçoar a infraestrutura, os fundadores chegaram a jantar com investidores da Magnetar. Segundo Venturo, ele chegou a bater com a mão na mesa, convencendo os investidores do futuro promissor da IA, o que resultou na emissão de um cheque de US$ 100 milhões.

O Caminho forjado pelo Código Aberto

A OpenAI tomou conhecimento da CoreWeave por meio do seu trabalho com a comunidade de código aberto. Inicialmente, a Microsoft havia se tornado o maior cliente da CoreWeave, já que era o principal investidor da OpenAI e seu único provedor de nuvem na época. Contudo, essa realidade mudou. Recentemente, a OpenAI assinou um contrato no valor de US$ 12 bilhões diretamente com a CoreWeave, substituindo a Microsoft como seu maior cliente.

Atualmente, a CoreWeave conta com 32 data centers e 250 mil GPUs, incluindo os difíceis de obter chips Blackwell da Nvidia, que suportam o raciocínio de IA, conforme destacado pela empresa. Venturo reconhece que se tem falado muito sobre a expressiva dívida de US$ 7,6 bilhões acumulada – grande parte a ser quitada em dois anos –, um fator que tem deixado os investidores cautelosos, especialmente quando comparada aos US$ 1,9 bilhão em receitas (mesmo considerando os US$ 15 bilhões em contratos). No entanto, ele enfatiza que cada contrato com clientes foi estruturado de forma a cobrir o financiamento necessário para a compra das GPUs.

Para Venturo, a trajetória é marcada por uma inusitada combinação de sorte e oportunidade. “Há tantas coincidências ao longo do caminho, é inacreditável”, concluiu.