Quando se trata de capturar imagens da Terra a partir do alto, geralmente pensamos em satélites, drones e aviões. No entanto, a startup Near Space Labs está adotando uma abordagem completamente diferente para produzir fotos de alta resolução a partir do céu.

A empresa está desenvolvendo aeronaves elevadas por balões de hélio, que se sustentam com as correntes de vento para se manter no ar, deslocar e capturar imagens na estratosfera, finalizando com um planador que retorna à Terra. Com significativa tração entre os clientes que utilizam suas imagens, a startup captou US$ 20 milhões para expandir seus negócios.

O Bold Capital Partners — fundado por Peter Diamandis, renomado por sua participação no XPRIZE e na Singularity University — lidera a rodada de Série B, com o apoio estratégico da USAA, além do Climate Capital, Gaingels, River Park Ventures e investidores anteriores como Crosslink Capital, Third Sphere, Draper Associates, entre outros. Ao todo, a Near Space já levantou mais de US$ 40 milhões, incluindo uma Série A de US$ 13 milhões realizada em 2021.

Swift

A startup é fruto da iniciativa de Rema Matevosyan (CEO), Ignasi Lluch (CTO) e Albert Caubet (engenheiro-chefe) — três fundadores com experiência consolidada em tecnologia, espaço e pesquisa em física.

Matevosyan, de origem armênia, cresceu em uma família bastante técnica, repleta de físicos, programadores e astrônomos amadores. Após cursar matemática na graduação em Yerevan, mudou-se para Moscou para realizar o mestrado e, no Instituto Skolkovo, conheceu Lluch, que havia vindo da Espanha para estudar. Ambos foram atraídos pela instituição, considerada o “MIT da Rússia”, que, em 2017, estava em parceria com o MIT para concretizar essa ambição.

Foi por meio dessa colaboração que o trio se inscreveu em um acelerador nos Estados Unidos chamado Urban-X, em Nova York. Matevosyan identificou afinidade com o estilo de vida americano, permanecendo no país, onde hoje dirige a empresa.

Se a Near Space tem como objetivo flutuar acima da Terra para oferecer uma perspectiva única do que ocorre abaixo, essa abordagem também funciona como metáfora para a trajetória da empresa e de seus fundadores.

A parceria entre o Skolkovo e o MIT, que atraiu Matevosyan e Lluch, chegou ao fim em fevereiro de 2022 — um dos efeitos das sanções impostas pelos Estados Unidos à Rússia após a invasão da Ucrânia. Paralelamente, o acelerador Urban-X foi encerrado por seu principal patrocinador, a BMW, conforme noticiado em outra reportagem.

A Near Space, entretanto, segue em operação e em crescimento. Matevosyan comentou que um dos maiores segmentos de clientes até o momento tem sido o da indústria de seguros, que utiliza as assinaturas para receber imagens e monitorar os impactos de desastres de larga escala, como incêndios e furacões. (A USAA, por exemplo, é uma importante seguradora e prestadora de serviços financeiros, atendendo ainda motoristas militares, veteranos e suas famílias.)

No momento, a Near Space cobre apenas áreas específicas dos Estados Unidos, mas o plano é ampliar essa cobertura. Segundo Matevosyan, essa expansão é facilmente alcançável, pois a empresa não precisa de licenças especiais para operar: os robôs Swift — as aeronaves desenvolvidas — são impulsionados por balões, dependendo apenas de correntes de vento para se movimentarem autonomamente na estratosfera.

A ambição final é atingir 80% da população dos EUA duas vezes por ano com imagens de resolução de 7 cm. A empresa afirma que consegue capturar em horas o que levaria 800.000 drones dias ou até semanas para executar.

Além disso, a startup planeja desenvolver planos de cobertura ainda mais personalizados para seus clientes, adaptados às necessidades específicas de cada operação. Atualmente, os principais usuários estão ligados ao setor de seguros, mas parte do financiamento também impulsionará a expansão para outros segmentos. Matevosyan apontou a agricultura como uma área com grande potencial: muitas fazendas, de todos os tamanhos, já tentaram utilizar drones para avaliar o estado das plantações, mas esse método não se mostrou escalável nem suficientemente preciso, pois amostragens parciais não refletem necessariamente a condição de toda a fazenda; além disso, o custo operacional dos drones é elevado. Já os satélites não conseguem oferecer a resolução adequada a um custo-benefício interessante.

Um setor que parece evidente, mas que a Near Space ainda não explorou, é o militar. Matevosyan descreve o Swift como “dual use”, podendo inclusive transportar uma carga limitada, mas, até o momento, a empresa tem se concentrado exclusivamente em aplicações comerciais.

Diante do cenário atual e das implicações do clima geopolítico, será interessante acompanhar se esse posicionamento se manterá para uma tecnologia que se mostra extremamente versátil e de baixo custo.

Essa promessa de imagens aéreas econômicas tem atraído o interesse dos investidores. “A ideia de imagens aéreas de baixo custo é valiosa para diversas partes, não apenas para a indústria de seguros”, destacou Will Borthwick, do Bold, que liderou esse investimento. Essa visão se estende até mesmo aos setores que poderão se beneficiar do avanço da inteligência artificial, que depende de dados de alta qualidade e em tempo real para operar com eficiência.