Manychat capta US$ 140 milhões para ampliar sua plataforma de mensagens empresariais com IA
Chatbots e outros tipos de agentes de inteligência artificial – e as empresas que os desenvolvem – podem parecer comuns atualmente. Contudo, a verdade é que, tanto para negócios quanto para consumidores, alguns podem ser infinitamente mais úteis (e até menos distópicos) do que outros. Hoje, uma startup que construiu um negócio bem-sucedido a partir dessa ideia anunciou uma importante rodada de crescimento para expandir suas operações. A Manychat, que oferece às marcas uma ferramenta para gerenciar e automatizar conversas e engajamento em diversos canais de mensagens, levantou US$ 140 milhões em uma captação liderada pela Summit Partners.
A rodada vem após um forte crescimento da startup. Atualmente, a Manychat conta com cerca de 1,5 milhão de clientes em 170 países, entre os quais constam grandes marcas, como Nike, além de veículos de comunicação e pequenos negócios ou criadores individuais.
O CEO e cofundador, Mike Yan, afirmou que a Manychat envia “bilhões” de mensagens anualmente em nome desses usuários, atuando em plataformas como TikTok, Instagram, WhatsApp, Messenger e outras. O objetivo desta nova rodada de investimento é fomentar tanto o desenvolvimento de produtos – sobretudo através da incorporação de mais recursos de inteligência artificial à plataforma – quanto impulsionar as áreas de vendas, marketing e suporte em âmbito global.
Embora eficaz, a Manychat surpreende por já operar, em grande parte, de forma lucrativa – ou quase, como o próprio Yan ressalta: “Sempre operamos na linha tênue entre o equilíbrio e o prejuízo.”
Lançada em 2015, a empresa levantou cerca de US$ 23 milhões ao longo de sua trajetória, em sua maioria provenientes de uma rodada de US$ 18 milhões em 2019, liderada pela Bessemer com participação da Flint Capital. A companhia não divulgou quais outros investidores estão participando nesta nova rodada, mas é provável que sua avaliação, ainda não informada, seja consideravelmente superior aos modestos US$ 58 milhões de avaliação pós-investimento apontados para a Série A.
De Telegram para o Instagram
A trajetória da Manychat reflete tanto a ascensão dos aplicativos de mensagens para smartphones na última década quanto as oportunidades crescentes para ferramentas que auxiliem empresas a explorar esse meio de comunicação de forma mais efetiva. Em 2015, a caixa de entrada de e-mails começava a se tornar um espaço saturado por spam e uso excessivo para estratégias de marketing.
Na época, Yan estava se reerguendo após o fracasso de um aplicativo social e, como usuário do Telegram – um dos aplicativos de mensagens em ascensão – percebeu que os consumidores passavam a migrar para esses serviços para suas comunicações diárias. Quando o Telegram liberou suas APIs, a inspiração surgiu para ele e seu cofundador Anton Morin. Segundo Yan, o Telegram foi um dos primeiros aplicativos de mensagens ocidentais a disponibilizar suas APIs, permitindo identificar uma demanda clara: enquanto as empresas ainda se conectavam por e-mail, os usuários já passavam a maior parte do tempo em aplicativos de mensagens, o novo palco da comunicação e do relacionamento com o consumidor.
Assim, ele e Morin criaram a primeira versão da Manychat como uma ferramenta para empresas implementarem chats no Telegram, conquista que lhes garantiu uma vaga no acelerador 500 Startups.
Quando o Facebook liberou suas APIs para o Messenger – iniciando suas próprias experiências com chatbots de inteligência artificial – o crescimento da Manychat decolou. Em 2019, quando a empresa levantou sua rodada Série A, já alcançava 350 milhões de usuários mensais na plataforma, com bilhões de mensagens e uma notável taxa de abertura de 80%.
A ampliação das APIs em outras plataformas pertencentes à Meta, além do TikTok, impulsionou esse crescimento. Embora o Telegram ainda seja utilizado para estratégias de marketing, atualmente ele representa apenas uma pequena parcela do tráfego da empresa, sendo o Instagram a plataforma mais ativa e engajada para a Manychat.
A fundação da Manychat e grande parte do seu crescimento ocorreram antes da ascensão da inteligência artificial generativa e do surgimento dos chatbots baseados em IA, como os desenvolvidos pela Anthropic, OpenAI e Google. Inicialmente, o produto era descrito como uma “mistura inteligente de automação e contato pessoal”, permitindo que clientes, sem necessidade de programação, criassem chatbots para ampliar seguidores nas redes sociais, coletar endereços de e-mail, responder a comentários e configurar fluxos de mensagens para solicitar produtos ou informações adicionais.
O que diferencia a Manychat, conforme Yan, é o seu foco em incentivar ações futuras, o que a torna distinta de muitos outros chatbots disponíveis atualmente, inclusive daqueles baseados em inteligência artificial generativa.
Sophia Popova, parceira da Summit que liderou o investimento e passará a integrar o conselho da startup, acredita que a estratégia da Manychat de desenvolver uma camada de engajamento, que já demonstrou grande sucesso, é uma aposta sólida para a próxima fase de crescimento dos aplicativos de mensagens. Ela afirmou que “nossa tese baseia-se na crescente parcela dos dólares do comércio que estão passando por aplicativos de mensagens sociais. É necessário estar sempre presente e engajando 24 horas por dia, 7 dias por semana. Isso é o que os clientes esperam, e o Manychat está cumprindo essa missão com precisão.”
Para tarefas como atendimento via chatbot, existem inúmeras ferramentas no mercado, mas poucas conseguem engajar os usuários de maneira a efetivamente impulsionar vendas ou estimular outras respostas, como tem sido o caso da Manychat.
Diante do ritmo acelerado de desenvolvimento e da pressão que muitas startups de inteligência artificial enfrentam para gerar receita e compensar os altos investimentos, essa vantagem competitiva pode ser temporária. Por isso, a Manychat continua investindo na incorporação de mais funcionalidades de IA para aprimorar ainda mais sua oferta.