Manus: Hype e Realidade
Manus, uma plataforma de IA “agente” lançada em pré-visualização na semana passada, está gerando mais entusiasmo do que um show de Taylor Swift. O chefe de produto da Hugging Face chamou Manus de “a ferramenta de IA mais impressionante que já experimentei”, enquanto o pesquisador de políticas de IA Dean Ball afirmou que se trata do “computador mais sofisticado que utiliza IA”. O servidor oficial do Discord para Manus chegou a mais de 138 mil membros em poucos dias e, segundo relatos, os convites estão sendo revendidos por milhares de dólares em um aplicativo de revenda chinês.
No entanto, ainda não está claro se todo esse burburinho é justificado. Manus não foi desenvolvido inteiramente do zero. Segundo relatos nas redes sociais, a plataforma utiliza uma combinação de modelos de IA existentes e ajustados — como o Claude da Anthropic e o Qwen da Alibaba — para executar tarefas que vão desde a elaboração de relatórios de pesquisa até a análise de demonstrações financeiras. Do lado da empresa, a startup chinesa Monica apresenta, em seu site, exemplos ousados do que a plataforma supostamente pode realizar, como comprar imóveis ou programar videogames.
Desempenho e Experiência do Usuário
Em um vídeo viral na rede X, Yichao “Peak” Ji, pesquisador do Manus, sugeriu que a plataforma seria superior a outras ferramentas agentes, como o deep research e o Operator do OpenAI. Segundo Ji, Manus superaria o deep research em um benchmark popular para assistentes gerais de IA, o GAIA, que avalia a capacidade de uma IA em navegar na web, utilizar softwares e muito mais, diminuindo a lacuna entre a concepção e a execução. Ele enxerga o Manus como o novo paradigma da colaboração entre humanos e máquinas.
Apesar das boas premissas, alguns usuários relataram problemas. Alexander Doria, cofundador da startup de IA Pleias, mencionou ter encontrado mensagens de erro e loops infinitos durante os testes. Outros apontaram que o Manus comete erros em questões factuais, não cita suas fontes de forma consistente e frequentemente deixa de trazer informações facilmente encontradas online.
Testes Práticos
Em uma experiência pessoal, ao solicitar um pedido simples — como um sanduíche de frango frito de um restaurante bem avaliado na região — o Manus travou após cerca de dez minutos. Em uma segunda tentativa, a plataforma identificou um item no menu que atendia aos critérios, mas não conseguiu completar o processo de compra nem fornecer um link de checkout. Em uma tentativa de reservar um voo de Nova York para o Japão, usando instruções claras de que deveria buscar uma opção em classe executiva considerando preço e datas flexíveis, o melhor resultado foi uma lista de links para tarifas em diversos sites, alguns dos quais estavam fora de funcionamento.
Outras tentativas, como reservar uma mesa em um restaurante próximo ou construir um jogo de luta inspirado em Naruto, acabaram em falhas após poucos minutos ou meia hora de tentativa, levando muitos usuários a desistirem.
Avaliação Geral
Depois de testar o Manus por três dias, alguns pontos positivos foram destacados:
- A pesquisa na internet e a elaboração de relatórios realizados pela plataforma são impressionantes;
- A capacidade de executar scripts em segundo plano para realizar tarefas é um diferencial notável;
- Os planos e abstrações iniciais demonstram um potencial significativo para futuras aplicações.
Por que, então, o Manus causou tanto impacto, mesmo apresentando falhas? Diversos fatores contribuíram, como a exclusividade criada pela escassez de convites. A mídia chinesa foi rápida em valorizar o Manus como um avanço na IA, chegando a chamá-lo de “orgulho dos produtos nacionais”. Paralelamente, influenciadores de IA nas redes sociais espalharam informações distorcidas sobre suas capacidades. Um vídeo amplamente compartilhado mostrava um programa de desktop, supostamente o Manus, atuando em múltiplos aplicativos de smartphone; posteriormente, Ji confirmou que aquele vídeo não representava uma demonstração real da plataforma.
Além disso, comparações foram feitas com empresas chinesas de IA, como a DeepSeek. Diferentemente desta, que desenvolveu modelos internamente e disponibilizou várias tecnologias de forma aberta, a Monica ainda não ofereceu esse nível de transparência.
É importante lembrar que o Manus ainda está em acesso antecipado. A startup alega estar trabalhando para ampliar a capacidade de computação e corrigir problemas à medida que são reportados. No estágio atual, a plataforma parece ser mais um exemplo de hype que supera a realidade tecnológica.