Guerra Comercial e Desconfiança dos Viajantes Levam Companhias Aéreas a Reduzirem Voos e Retirarem Previsões Financeiras
Grandes companhias aéreas dos EUA estão reduzindo seus horários de voo e revisando ou cancelando suas projeções de lucro para o ano, devido à menor demanda por viagens domésticas enquanto o sentimento sobre as economias nacional e global se deteriora.
A American Airlines cancelou sua previsão financeira para 2025 nesta quinta-feira, juntando-se aos rivais Southwest e Delta, que afirmaram que o cenário econômico está muito incerto para fornecer estimativas para o ano inteiro. As três empresas citaram a queda nas vendas entre viajantes de classe econômica a lazer.
“Saímos de um quarto trimestre forte, tivemos um desempenho bacana em janeiro, mas as viagens de lazer domésticas caíram consideravelmente a partir de fevereiro”, declarou o CEO da American Airlines, Robert Isom, à CNBC.
A relutância dos consumidores em reservar férias corresponde a uma nova pesquisa que revelou que muitas pessoas temem que os EUA estejam sendo conduzidos para uma recessão e que as tarifas amplas e aplicadas de maneira irregular pelo presidente Donald Trump provocarão aumento generalizado dos preços.
Também há crescentes preocupações com relação aos viajantes internacionais. Michael Feroli, economista-chefe dos EUA no J.P. Morgan, afirmou em nota para clientes que o sentimento antiamericano pode estar contribuindo para uma queda nas viagens, com dados indicando que o número de visitantes internacionais nos EUA está cerca de 5% menor do que há um ano.
Alguns indicadores econômicos apontam para expectativas de desaceleração. As vendas de casas previamente ocupadas nos EUA desaceleraram em março e o sentimento do consumidor americano caiu em abril, marcando o quarto mês consecutivo de declínio. Entretanto, os temores de uma desaceleração não se refletiram em demissões.
Trump anunciou tarifas amplas em 2 de abril, o que provocou pânico nos mercados financeiros e gerou temores de recessão, levando consumidores e empresas a reduzir gastos – incluindo viagens. O presidente impôs uma suspensão parcial de 90 dias nas tarifas de importação, mas ao mesmo tempo aumentou as já elevadas tarifas contra a China.
Em retaliação, Pequim elevou o imposto de importação sobre produtos americanos para 125%. Na quinta-feira, a China negou a afirmação de Trump de que os dois países estavam em negociações ativas para encerrar ou amenizar a guerra comercial.
A American Airlines informou que atualizará suas projeções para o ano “à medida que o cenário econômico se tornar mais claro”. Segundo executivos, as vendas entre viajantes a negócios e para assentos premium em voos internacionais de longa distância permanecem sólidas.
A Southwest Airlines anunciou na tarde de quarta-feira que reduzirá seu horário de voos na segunda metade do ano, em razão da queda na demanda. A empresa também afirmou que não pôde reafirmar suas projeções financeiras para 2025 e 2026 para o lucro antes de juros e impostos, dada a “incerteza macroeconômica atual”.
A United Airlines divulgou, na semana passada, duas previsões financeiras diferentes para o desempenho deste ano – uma considerando a possibilidade de recessão e outra caso contrário. A companhia planeja reduzir seus voos domésticos programados em 4% a partir de julho, em resposta à demanda menor do que o esperado pelas passagens de tarifa econômica.
“Acreditamos que há uma chance razoável de que a situação se agrave a partir daqui”, afirmou o CEO da United, Scott Kirby.
A Delta Air Lines, considerada a transportadora mais lucrativa do país, previa até janeiro que estaria a caminho do melhor ano financeiro de sua história. No início deste mês, a empresa revisou suas expectativas para 2025 e anunciou a suspensão de uma expansão planejada de seu horário de voos.
“Com a ampla incerteza econômica envolvendo o comércio global, o crescimento praticamente estagnou”, declarou o CEO da Delta, Ed Bastian. “Nesse ambiente de crescimento mais lento, estamos protegendo nossas margens e o fluxo de caixa ao focar no que podemos controlar, o que inclui reduzir o crescimento planejado da capacidade para a segunda metade do ano.”
As empresas-mãe da Frontier Airlines e da Alaska Airlines também cancelaram suas previsões financeiras para 2025.