Google quer que o Gemini te conheça melhor
Na guerra dos chatbots de IA, o Google acredita que a chave para reter usuários é oferecer conteúdo exclusivo – respostas moldadas pelos hábitos individuais de navegação.
Na última quinta-feira, a empresa anunciou o Gemini com personalização, uma nova capacidade experimental para os aplicativos do chatbot Gemini que permite recorrer a outros aplicativos e serviços do Google para entregar respostas customizadas. Esse recurso pode acessar as atividades e preferências do usuário em todo o ecossistema de produtos do Google, oferecendo respostas sob medida, conforme destacou Dave Citron, diretor de produto do Gemini.
Citron escreveu em seu post que “essas atualizações foram projetadas para fazer o Gemini parecer menos uma ferramenta e mais uma extensão natural de você, antecipando suas necessidades com assistência verdadeiramente personalizada.” Testadores iniciais relataram que o recurso foi útil tanto para gerar ideias quanto para obter recomendações personalizadas.
O Gemini com personalização será integrado inicialmente à Pesquisa do Google, com planos de expansão para outros serviços, como Google Fotos e YouTube, nos próximos meses. Essa estratégia surge num momento em que outros desenvolvedores de chatbots, como a OpenAI, também buscam diferenciar seus assistentes virtuais com funcionalidades únicas. Por exemplo, a OpenAI lançou a capacidade do ChatGPT no macOS de editar código diretamente em aplicativos compatíveis, enquanto a Amazon se prepara para apresentar uma reimaginação “agentica” da Alexa.
Citron explicou que o recurso é alimentado pelo modelo experimental Gemini 2.0 Flash Thinking, um modelo de “raciocínio” capaz de determinar se dados pessoais obtidos de um serviço do Google – como o histórico de pesquisas – podem “melhorar” uma resposta. Perguntas específicas, como “Para onde devo viajar nas férias de verão?” ou “Que novo hobby você recomenda que eu aprenda?”, tendem a se beneficiar mais dessa funcionalidade.
De acordo com Citron, “por exemplo, você pode pedir recomendações de restaurantes e o Gemini poderá referenciar suas buscas recentes relacionadas à gastronomia, ou solicitar dicas de viagem, e o sistema responderá com base em destinos previamente pesquisados.”
Se tudo isso soar como um pesadelo para a privacidade, a preocupação é válida. É fácil imaginar um cenário em que o Gemini acabe revelando, de maneira inadvertida, informações sensíveis. Por esse motivo, o Google optou por tornar o recurso de personalização opcional, excluindo também usuários com menos de 18 anos. O Gemini solicitará permissão antes de se conectar ao histórico de pesquisas e a outros aplicativos, além de indicar quais fontes de dados foram utilizadas para customizar as respostas.
Citron ressaltou: “Ao usar o experimento de personalização, o Gemini exibirá uma barra clara com um link para que você possa desconectar facilmente o seu histórico de pesquisas. Ele só acessará esse histórico se você optar pela personalização, concedendo permissão e mantendo ativa a Atividade na Web e em Apps.”
O recurso será disponibilizado para usuários do Gemini na web (com exceção de clientes do Google Workspace e do Google for Education) a partir desta quinta-feira, por meio do menu suspenso do aplicativo, e “gradativamente” se expandirá para dispositivos móveis. Inicialmente, estará disponível em mais de 40 idiomas na maioria dos países, com exceção do Espaço Econômico Europeu, Suíça e Reino Unido.
Citron também indicou que esse recurso pode não ser gratuito para sempre, afirmando que “limites de uso futuros podem ser aplicados” e que o feedback dos usuários continuará sendo coletado para identificar as aplicações mais úteis dessa capacidade.
Novos modelos, conectores e mais
Como incentivo adicional para continuar utilizando o Gemini, o Google anunciou a atualização de modelos, melhorias nas capacidades de pesquisa e novos conectores de aplicativos para a plataforma.
Os assinantes do Gemini Advanced, a assinatura premium de US$20 por mês, agora podem acessar uma versão autônoma do 2.0 Flash Thinking Experimental, que suporta anexos de arquivos, integrações com aplicativos como Google Calendar, Notes e Tasks, além de oferecer uma janela de contexto de 1 milhão de tokens – aproximadamente 750 mil palavras.
O Google afirmou que essa versão aprimorada é mais rápida, eficiente e capaz de lidar melhor com comandos que envolvam múltiplos aplicativos, como “buscar uma receita simples de cookies no YouTube, adicionar os ingredientes à minha lista de compras e encontrar mercados que ainda estejam abertos nas proximidades.”
Em resposta à pressão por pesquisas mais aprofundadas, o Google também está aprimorando o Deep Research, recurso do Gemini que compila relatórios sobre diversos assuntos ao realizar buscas na web. Agora, o Deep Research expõe suas etapas de raciocínio e utiliza o modelo 2.0 Flash Thinking Experimental como padrão – resultando em relatórios de maior qualidade, mais detalhados e perspicazes.
Além disso, o Deep Research está disponível para testes gratuitos a todos os usuários do Gemini, e os limites de uso foram ampliados para os clientes do Gemini Advanced. Usuários gratuitos também terão acesso aos Gems, os chatbots customizáveis focados em tópicos, recurso que anteriormente exigia a assinatura do Gemini Advanced. Nas próximas semanas, todos os usuários do Gemini poderão, por exemplo, interagir com o Google Fotos para buscar imagens de uma viagem recente.