Um projeto desenvolvido durante um hackathon no fim de semana permite que agentes de inteligência artificial conversem por telefone entre si usando uma linguagem robótica, completamente ininteligível para os humanos, e viralizou nas redes sociais na última semana.

O projeto, chamado GibberLink, foi criado por dois engenheiros de software da Meta durante uma competição de hackathon em Londres, organizada pela ElevenLabs e Andreessen Horowitz.

GibberLink possibilita que um agente de IA identifique quando está conversando ao telefone com outro agente. Assim que o sistema percebe que a interlocução ocorre entre inteligências artificiais, o projeto orienta os agentes a migrarem para um protocolo de comunicação mais eficiente, denominado GGWave.

GGWave é uma biblioteca de código aberto composta por sons, onde cada tonalidade representa uma pequena porção de dados. Essa abordagem permite que os computadores se comuniquem de forma muito mais rápida e eficiente do que usando a fala humana. Para o ouvido humano, entretanto, o GGWave soa como uma sequência de “bipes” e “boops”, exatamente como se espera da linguagem nativa de um computador.

Embora hoje pareça improvável que dois agentes de IA acabem conversando por telefone, não é impossível imaginar cenários desse tipo surgindo em breve. Empresas estão substituindo, cada vez mais, funcionários de centrais de atendimento por agentes de IA desenvolvidos por startups especializadas em tecnologia de voz, como ElevenLabs, Level AI, Retell AI, entre outras.

Ao mesmo tempo, gigantes da tecnologia – como OpenAI, Google e Amazon – começaram a lançar agentes inteligentes para consumidores, capazes de lidar com tarefas complexas em nome do usuário. Em um futuro não muito distante, esses agentes poderão, inclusive, realizar ligações para centrais de atendimento ao cliente.

Nesse cenário, GibberLink pode aumentar a eficiência da comunicação entre agentes de IA, desde que ambos os lados possuam o protocolo ativado. Embora os modelos de voz das inteligências artificiais sejam bastante eficazes na tradução da fala humana para tokens compreensíveis pelos sistemas, esse processo é extremamente intensivo em recursos computacionais – e desnecessário quando a comunicação ocorre entre agentes de IA.

Por ora, trata-se apenas de um projeto interessante. Os criadores, Starkov e Pidkuiko, desenvolveram um site que pode ser acessado em dois dispositivos simultaneamente para observar os agentes de IA trocando informações por meio do GGWave.

Assim como ocorre em um bom filme de ficção científica, a demonstração do GibberLink despertou grande curiosidade – e inclusive uma certa dose de apreensão – em relação ao futuro da inteligência artificial. Na semana que se seguiu ao hackathon em Londres, um vídeo demonstrativo do projeto alcançou mais de 15 milhões de visualizações em uma rede social e foi até compartilhado por um renomado revisor de tecnologia.

No entanto, Starkov e Pidkuiko ressaltam que a tecnologia subjacente ao GibberLink não é novidade, remontando aos modems de internet dial-up dos anos 1980. Muitos podem recordar os sons característicos dos primeiros computadores que se comunicavam com modems através das linhas telefônicas residenciais – um processo conhecido como “handshake”. Essencialmente, esse “handshake” representava a transferência de dados por meio de uma linguagem robótica, similar ao que ocorre atualmente entre os agentes de IA utilizando o GibberLink.

Além disso, os criadores destacaram que o sucesso viral do GibberLink ganhou vida própria. Alguém adquiriu o domínio GibberLink.com e agora tenta vendê-lo por US$85.000, enquanto outros desenvolveram uma memecoin inspirada no projeto, e há até casos de pessoas oferecendo webinars alegando ensinar “comunicações entre agentes”.

Atualmente, os desenvolvedores deixam claro que não há intenção de comercializar o projeto, ressaltando que ele não tem relação com o trabalho realizado na Meta. Em vez disso, o GibberLink foi disponibilizado como código aberto, e os criadores afirmam que poderão desenvolver ferramentas complementares em seu tempo livre, lançando novidades num futuro próximo.