Ex-funcionários da OpenAI entram com amicus brief contra a transição para modelo com fins lucrativos
Um grupo de ex-funcionários da OpenAI apresentou, na última sexta-feira, um amicus brief em apoio a Elon Musk em sua ação judicial contra a empresa, se opondo à conversão da OpenAI de uma organização sem fins lucrativos para uma corporação com fins lucrativos.
O documento cita doze antigos colaboradores:
- Steven Adler
- Rosemary Campbell
- Neil Chowdhury
- Jacob Hilton
- Daniel Kokotajlo
- Gretchen Krueger
- Todor Markov
- Richard Ngo
- Girish Sastry
- William Saunders
- Carrol Wainwright
- Jeffrey Wu
No amicus brief, os ex-funcionários defendem que, se a parte sem fins lucrativos perder o controle das operações comerciais da organização, isso “violaria fundamentalmente sua missão”.
Alguns desses ex-colaboradores já haviam manifestado publicamente suas críticas às práticas da OpenAI. Gretchen Krueger, por exemplo, convocou a empresa para melhorar sua responsabilidade e transparência, enquanto Daniel Kokotajlo e William Saunders alertaram previamente sobre uma “corrida” considerada imprudente pela supremacia da inteligência artificial. Carrol Wainwright chegou a afirmar que a OpenAI “não deve ser confiada” quando promete agir corretamente futuramente.
Em resposta, um porta-voz da OpenAI afirmou que a divisão sem fins lucrativos “não vai a lugar algum” e que a missão da organização “permanecerá a mesma”. Segundo o representante, “nosso conselho foi muito claro. Estamos transformando nossa atual divisão com fins lucrativos em uma public benefit corporation (PBC) — a mesma estrutura de outros laboratórios de IA, como o Anthropic, onde alguns desses ex-funcionários já atuam, assim como a xAI, a startup de Musk.”
A OpenAI foi criada em 2015 como uma organização sem fins lucrativos, tendo se convertido para um modelo chamado “lucro limitado” em 2019, e agora está tentando restructurar novamente para uma PBC. Durante a transição para o lucro limitado, a divisão sem fins lucrativos foi mantida e detém, atualmente, uma participação controladora na divisão corporativa da organização.
A ação de Musk acusa a startup de abandonar sua missão sem fins lucrativos, que tinha o objetivo de garantir que a pesquisa em IA beneficiasse toda a humanidade. Embora Musk tenha buscado uma liminar para impedir a conversão, um juiz federal negou o pedido, permitindo que o caso siga para julgamento por júri na primavera de 2026.
O amicus brief dos ex-funcionários argumenta que a estrutura atual da OpenAI — com uma organização sem fins lucrativos controlando diversas subsidiárias — é “parte crucial” da estratégia global e “fundamental” para a concretização de sua missão. Qualquer reestruturação que retire o papel controlador da entidade sem fins lucrativos não apenas contrariaria a missão e os compromissos estatutários da OpenAI, como também “violaria a confiança de funcionários, doadores e demais interessados que se uniram e apoiaram a organização com base nesses compromissos”.
O documento reforça que a OpenAI assumiu diversos princípios fundamentais em seu estatuto para a execução de sua missão. Esses compromissos, levados muito a sério internamente, foram reiteradamente comunicados como obrigatórios. Assim, o tribunal deveria reconhecer que a manutenção da governança sem fins lucrativos é essencial para preservar a estrutura única da empresa, concebida para assegurar que a inteligência artificial geral beneficie a humanidade em vez de servir a interesses financeiros estreitos.
Inteligência artificial geral, ou AGI, é o termo usado para descrever sistemas de IA capazes de executar qualquer tarefa que um ser humano possa realizar.
O amicus brief também lembra que a estrutura da OpenAI costumava ser utilizada como ferramenta de recrutamento, com a garantia reiterada aos colaboradores de que o controle sem fins lucrativos era “crucial” para a realização de sua missão. Em uma reunião com todos os funcionários, no final de 2020, o CEO Sam Altman enfatizou que a governança e a supervisão da divisão sem fins lucrativos eram “primordiais” para assegurar que a segurança e os benefícios sociais amplos fossem priorizados em detrimento de ganhos financeiros imediatos.
Durante o processo seletivo, era comum destacar a estrutura diferenciada de governança da OpenAI como um fator decisivo em comparação com concorrentes como Google ou Anthropic, o que incentivava candidatos a se juntarem à empresa. Esse mesmo argumento também era usado para convencer colaboradores que consideravam migrar para empresas concorrentes a permanecer na OpenAI.
O documento alerta que, se a OpenAI for autorizada a converter-se em uma empresa lucrativa, poderá haver incentivos para “possivelmente cortar caminhos” em termos de segurança e desenvolver uma IA poderosa “concentrada entre seus acionistas”. Uma OpenAI com fins lucrativos teria pouco motivo para cumprir a cláusula de “mesclar e auxiliar” prevista no estatuto atual, que garante que a empresa cessará a concorrência e prestará apoio a qualquer projeto “alinhado a valores e consciente em termos de segurança” que atinja a AGI antes dela, conforme argumenta o amicus brief.
Os ex-funcionários, alguns dos quais atuavam como líderes em pesquisa e políticas na empresa, somam-se a um crescente grupo de críticos que se opõem fortemente à transição da OpenAI.
Recentemente, diversas organizações, incluindo grupos sem fins lucrativos e sindicatos, como os Teamsters da Califórnia, ingressaram com uma petição ao Procurador-Geral da Califórnia, alegando que a empresa “falhou em proteger seus ativos filantrópicos” e que estaria ativamente “subvertendo sua missão filantrópica para promover uma inteligência artificial segura”.
Além disso, a organização sem fins lucrativos Encode, que co-patrocinou uma controversa legislação de segurança em IA, expressou preocupações semelhantes em um amicus brief apresentado em dezembro.
A OpenAI afirmou que sua conversão preservaria a divisão sem fins lucrativos, dotando-a de recursos para serem investidos em iniciativas de caráter filantrópico em setores como saúde, educação e ciência. Em contrapartida à participação controladora na divisão empresarial, a entidade sem fins lucrativos poderia, segundo relatos, auferir bilhões de dólares com a conversão para o lucro limitado.
Segundo a empresa, “estamos realmente nos preparando para construir a organização sem fins lucrativos melhor equipada que o mundo já viu — não vamos converter essa estrutura”.
Com a necessidade de concluir a conversão para uma entidade com fins lucrativos até o final deste ou do próximo ano, a OpenAI enfrenta grandes desafios, sob pena de ter que abrir mão de parte do capital levantado nos últimos meses.