Descoberta do “Oxigênio Escuro” no Fundo do Mar

Desde a infância, somos incentivados a questionar o mundo ao nosso redor, mas conforme amadurecemos, podemos acabar ignorando descobertas que desafiam nosso entendimento. Foi exatamente o que ocorreu quando, em 2013, durante experimentos de medição do ciclo de carbono no fundo do Oceano Pacífico – na zona Clarion-Clipperton – foram encontradas bolhas inusitadas em um equipamento de coleta operado remotamente a 4.000 metros de profundidade.

No retorno ao local, dois anos depois, sensores de oxigênio, originalmente projetados para medir seu consumo, registraram a produção do gás, contrariando as expectativas. Por anos, essa leitura foi atribuída a um possível defeito do sensor, mas, em 2021, a utilização de um segundo método confirmou que, de fato, havia oxigênio sendo gerado sem a presença de luz solar – um fenômeno batizado de “oxigênio escuro”.

No verão de 2024, esses resultados foram publicados na revista Nature Geoscience, marcando uma mudança significativa na compreensão dos processos que ocorrem nas profundezas do oceano. A hipótese é de que os nódulos polimetálicos, formações rochosas ricas em diversos metais como o manganês, possam gerar uma voltagem capaz de dividir a água do mar em hidrogênio e oxigênio.

Essa descoberta não só reavalia os conceitos tradicionais sobre a produção de oxigênio – também investigada por um recente estudo chinês – como amplia horizontes para a astrobiologia. Se ficar comprovado que o oxigênio pode ser produzido sem a fotossíntese, as perspectivas sobre a existência de vida em outros mundos oceânicos, como as luas Enceladus e Europa, poderão ser revolucionadas, pois esses corpos celestes possuem crostas geladas que limitam a penetração da luz.

Atualmente, a equipe responsável já está planejando novas investigações na região central do Pacífico, incluindo o desenvolvimento de plataformas autônomas para amostragens a profundidades que podem atingir 11.000 metros, onde a pressão chega a superar uma tonelada por centímetro quadrado. Nesses experimentos, serão analisadas a liberação de hidrogênio durante a formação do oxigênio escuro e seu papel como fonte de energia para comunidades microbianas expressivas nas profundezas.

Além do impacto científico, essa descoberta apresenta importantes implicações para a indústria de mineração de fundo do mar, que visa extrair nódulos polimetálicos ricos em metais essenciais para a fabricação de baterias de íon-lítio, fundamentais em veículos elétricos e dispositivos portáteis. Compreender como essas operações podem afetar os ecossistemas abissais será crucial para definir políticas de proteção adequadas.

Enquanto os pesquisadores continuam a explorar os mistérios das profundezas, o fenômeno do “oxigênio escuro” promete abrir novas perspectivas não só sobre os processos químicos naturais do nosso planeta, mas também sobre as possibilidades de vida em ambientes extremos fora da Terra.