Primeiro-ministro da Itália, Giorgia Meloni, em coletiva de imprensa.

ROMA (AP) — Dezenas de milhares de italianos se reuniram no centro de Roma neste sábado em um comício pró-Europa, agitando bandeiras azuis da União Europeia como sinal de apoio e unidade, em meio à divisão causada pelo impulso europeu para o rearme.

A iniciativa, apoiada pela maioria dos partidos de oposição de centro-esquerda — apesar de suas posições divergentes — foi lançada pelo jornalista italiano Michele Serra no final de fevereiro, por meio de um editorial publicado no jornal La Repubblica intitulado “Vamos dizer algo Europeu”.

“Queria organizar uma grande manifestação de cidadãos que apoiassem a Europa, sua unidade e sua liberdade, sem bandeiras partidárias, apenas bandeiras europeias”, afirmou Serra, ao lançar o slogan: “Aqui fazemos a Europa, ou morremos”.

A manifestação nasceu em resposta às políticas desestabilizadoras do presidente dos EUA, Donald Trump, que criaram uma cisão sem precedentes entre a Europa e os Estados Unidos, agravada pela guerra na Ucrânia e por uma batalha tarifária em curso.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, apoiou a contragosto um plano da UE para o rearme, manifestando preocupação de que a proposta da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pudesse agravar a enorme dívida italiana, desviando recursos tão necessários para os gastos com armamentos.

O plano da União Europeia tem como objetivo gerar cerca de 800 bilhões de euros nos próximos quatro anos, com a maior parte desse montante proveniente do aumento dos gastos nacionais dos Estados-membros em defesa e segurança.

Internamente, Meloni criticou o projeto, rejeitando o termo “rearme” como enganoso e incentivando os parceiros europeus a concentrarem esforços na defesa e segurança comuns.

Os organizadores afirmaram que o comício, que encheu a central Praça del Popolo com pelo menos 30.000 pessoas, reuniu italianos de diferentes espectros políticos — inclusive eleitores de partidos opostos — “em nome da democracia”.

“Estamos aqui para defender a liberdade e a democracia”, declarou Daniela Condotto, uma das manifestantes. “São conceitos com os quais convivemos há mais de 80 anos, mas que precisam ser continuamente defendidos — não podemos considerá-los garantidos.”

Enquanto os partidos de direita alinhados com o governo optaram por não participar da manifestação, mantendo seu apoio a Meloni, que luta para exercer um papel de mediadora entre Trump e a UE, representantes dessa ala criticaram o evento.

“É necessário apoiar a Europa, mas com reformas concretas, e não apenas com eventos simbólicos”, destacou Antonio Tajani, ministro das Relações Exteriores e vice-primeiro-ministro, antes do início do comício.

Por outro lado, o vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, líder do partido euroscético da Lega, foi franco em sua crítica: “Enquanto algumas pessoas se reúnem com bandeiras, nós trabalhamos para transformar esta Europa, que oprime trabalhadores, agricultores e empreendedores com suas regras absurdas.”