Intel prevê segundo trimestre fraco em meio a tensões comerciais

Em teleconferência com investidores, a Intel (INTC.O) revelou que sua previsão de receita e lucro para o segundo trimestre ficou abaixo das estimativas de Wall Street. Essa divulgação coincide com a primeira rodada de resultados do novo CEO, Lip‐Bu Tan, em meio a uma crescente guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

Durante a chamada, Tan também apresentou as primeiras pistas de um amplo plano para revitalizar a cultura de inovação da empresa. Entre as medidas estão a obrigatoriedade de retorno ao escritório por quatro dias na semana, a redução nas reuniões internas e o corte de atividades administrativas desnecessárias em prol de um foco maior em engenharia.

Essas declarações ajudaram, ainda que parcialmente, a conter as perdas das ações da companhia, que fecharam o pregão estendido com uma queda de 5%.

Dúvidas sobre o cenário econômico e impacto das tarifas

O diretor financeiro, David Zinsner, explicou que temores relacionados às tarifas levaram os clientes a aumentar seus estoques de chips da Intel, impulsionando as vendas no primeiro trimestre. Contudo, esse benefício não pôde ser mensurado e a expectativa é que o segundo trimestre sinta os efeitos desse fenômeno.

Segundo Zinsner, “as políticas comerciais, especialmente nos EUA e em outros mercados, somadas aos riscos regulatórios, aumentaram a chance de uma desaceleração econômica, com a probabilidade de uma recessão crescendo.”

Colaboração com a TSMC e planos de corte de custos

Apesar das incertezas geradas pelas tarifas, Tan revelou que se reuniu recentemente com o CEO da Taiwan Semiconductor Manufacturing Co. (TSMC), C.C. Wei, e com o ex-CEO Morris Chang. O encontro teve como objetivo identificar possíveis áreas de colaboração e criar uma situação vantajosa para ambas as partes.

Em paralelo aos esforços de reestruturação, a Intel anunciou a redução de sua meta de despesas operacionais ajustadas. Para 2025, o objetivo passou a ser aproximadamente US$ 17 bilhões – uma queda em relação à meta anterior de US$ 17,5 bilhões – e a previsão para 2026 está em torno de US$ 16 bilhões.

Tan também destacou que a empresa está analisando sua infraestrutura fabril. Em fevereiro, a Intel anunciou o adiamento de um projeto de fábrica, inicialmente previsto em US$ 28 bilhões em Ohio, para 2030, ressaltando a necessidade de otimizar o uso da capacidade existente antes de assumir novos investimentos.

Apoio governamental e perspectivas para o futuro

O CFO Zinsner informou que a Intel recebeu US$ 1,1 bilhão em subvenções do governo dos EUA, estabelecidas pelo CHIPS Act. Mesmo assim, a previsão de gastos com investimentos de capital para 2025 permanece entre US$ 8 bilhões e US$ 11 bilhões, reflexo das incertezas quanto ao cronograma do cumprimento dos compromissos governamentais.

Em comunicado interno, Tan anunciou que demissões começarão no segundo trimestre, focando na redução da burocracia interna e na diminuição do número e da duração das reuniões. Segundo o CEO, essas medidas dolorosas são necessárias para posicionar a empresa de forma sustentável para o futuro.

Para o trimestre que se encerra em junho, a Intel espera uma receita entre US$ 11,2 bilhões e US$ 12,4 bilhões, abaixo da média dos analistas, que estimam US$ 12,82 bilhões. O lucro ajustado por ação para o período deverá se igualar, contrastando com as expectativas de um lucro de 6 centavos por ação.

Enquanto os presidentes dos EUA têm, por enquanto, isentado os chips das tarifas, as elevadas tarifas impostas pela China sobre semicondutores fabricados nos EUA lançam incertezas sobre as vendas da Intel em seu maior mercado. De acordo com um anúncio recente da China Semiconductor Industry Association, os chips produzidos nos EUA poderão enfrentar tarifas de 85% ou mais.

A China importa anualmente aproximadamente US$ 10 bilhões em chips dos EUA, dos quais cerca de US$ 8 bilhões correspondem a unidades centrais processadas (CPUs) fabricadas pela Intel.