A Era Quântica Já Começou

No final de 2024, até mesmo os observadores casuais das manchetes tecnológicas passaram a notar o crescimento do entusiasmo em torno da computação quântica – uma tecnologia que representa uma mudança fundamental na forma como processamos informações, aplicando os princípios da física quântica para solucionar problemas muito além do alcance dos computadores clássicos mais poderosos.

Em meio a inúmeros avanços, em março de 2024 a Quantinuum anunciou um marco importante na construção de um computador quântico em larga escala. No mês seguinte, durante o Congresso Mundial da Computação Quântica, gigantes como IBM, Microsoft e Boeing divulgaram grandes desenvolvimentos em suas pesquisas quânticas. Encerrando o ano, em dezembro, a Google apresentou seu processador Willow, celebrado como uma conquista significativa na jornada rumo à computação quântica prática. O entusiasmo do mercado estava em pleno aceleramento.

No entanto, em janeiro, durante a tradicional Consumer Electronics Show em Las Vegas, o CEO da Nvidia, Jensen Huang, afirmou em um encontro com jornalistas que não previa uma utilidade “muito prática” da computação quântica antes de 15 a 30 anos. Três meses depois, diante de um grupo de líderes da área quântica, ele revisou sua declaração – embora seu comentário tenha continuado a instigar debates na indústria e entre investidores sobre a trajetória e os próximos passos na inovação quântica.

Muitos ainda acreditam que estamos a três a cinco anos de alcançar uma viabilidade comercial real para a computação quântica, mas os participantes desse processo discordam. A realidade é que a era quântica não está a 15 ou 30 anos de distância, nem daqui a três a cinco; ela já começou.

Sem um Momento “Eureka” Visível

Tal desalinhamento pode advir da expectativa criada pelas revoluções tecnológicas anteriores, que sempre vieram acompanhadas de grandes lançamentos de produtos – como o Apple II, em 1977, que inaugurou a era dos computadores pessoais prontos para o consumidor, ou o Netscape Navigator, que em 1994 popularizou a internet ao levar a web a milhões de desktops e impulsionar uma revolução digital. Entretanto, a evolução da computação quântica não é marcada por um momento “Eureka”, de grande revelação.

A transformação que ela propicia acontecerá de forma sutil, incorporada aos sistemas essenciais de ciência, logística, saúde e finanças, e não em forma de um produto revolucionário ou um aplicativo inovador. Em vez de um lançamento espetacular, veremos progressos de desempenho, a solução de problemas e a geração de valor consistente.

Para quem não trabalha diariamente com computadores quânticos, pode ser difícil perceber o avanço. Entretanto, análises de bastidores revelam que essa tecnologia está prestes a oferecer um uso industrial amplo, à medida que usuários comerciais passam a reconhecer seu verdadeiro potencial de valor.

Exemplos claros já podem ser observados: grandes empresas farmacêuticas estão acelerando tanto suas pesquisas sobre doenças quanto a descoberta de medicamentos potencializados pela computação quântica; nas indústrias automobilística e aeroespacial, companhias estão usando essa tecnologia para melhorar o desempenho de catalisadores para células de combustível de hidrogênio e baterias elétricas; além disso, diversas organizações já utilizam hardware quântico para gerar chaves de criptografia verdadeiramente aleatórias, tornando os sistemas mais seguros tanto contra as ameaças atuais quanto contra futuras vulnerabilidades possibilitadas pela própria computação quântica.

Essas aplicações não são mais meras teorias – elas já se mostraram iniciativas comercialmente viáveis e geradoras de valor, atuando como ferramentas competitivas em setores como aeroespacial, energia, serviços financeiros e segurança nacional. Em alguns casos, os benefícios superam os métodos tradicionais.

Se considerarmos que o início da era comercial de um produto ocorre no momento em que a criação de valor começa, essa data já ficou para trás. Exemplos como os citados, entre inúmeros outros, provam que a indústria quântica nascente já vem entregando resultados e valor para o mercado.

Nos últimos 18 meses, tanto o software quanto o hardware quântico avançaram a um ritmo acelerado, semelhante aos primeiros dias da computação clássica. Pouco tempo atrás, muitos imaginavam que computadores quânticos de 100 qubits seriam alcançáveis dentro de uma década, mas, ainda este ano, a Microsoft revelou o primeiro processador quântico do mundo baseado em qubits topológicos.

Governos de diversas partes do mundo estão percebendo essa evolução e investindo agressivamente nesses esforços. Países como China, Alemanha, Reino Unido, Estados Unidos e Coreia do Sul lideram os investimentos públicos em tecnologia quântica, enquanto muitas outras nações também destinam recursos para impulsionar a inovação e alcançar resultados tangíveis. Universidades estão lançando programas de engenharia quântica, o capital de risco já flui para o setor, profissionais estão migrando para a área quântica e o ecossistema comercial de computação quântica se forma rapidamente.

Em outras palavras, mesmo que alguns digam que o tempo dessa tecnologia ainda não chegou, a verdade é que o “trem quântico” já deixou a estação. Para desenvolvedores, investidores e formuladores de políticas, hesitar em adotar novas tecnologias pode abrir espaço para que concorrentes e adversários assumam a dianteira. Os pioneiros da computação quântica já estão registrando patentes, construindo infraestrutura, desenvolvendo plataformas de software e definindo padrões. Permanecer à margem significa abrir mão da vantagem de ser o primeiro a explorar uma das mais poderosas inovações tecnológicas deste século.

A computação quântica não é apenas uma ferramenta; ela representa uma capacidade nacional. Países que liderarem nesse campo atrairão talentos, protegerão seus dados e definirão como essa nova tecnologia será regulada e implementada. Aqueles que ficarem para trás podem se ver obrigados a alcançar os líderes em áreas como cibersegurança, modelagem energética, desenvolvimento de fármacos e aplicações de defesa. Essa realidade não é hipotética nem depende de um momento “Eureka”: ela vem se desenvolvendo ao longo da última década.

Os líderes da computação quântica de amanhã já estão construindo e comercializando as primeiras soluções hoje. Enquanto alguns podem continuar debatendo, as oportunidades pertencem àqueles que encaram o quântico como uma estratégia fundamental e não apenas como uma eventualidade. Se você administra um negócio, organiza uma agenda de pesquisa, gerencia um portfólio ou formula políticas nacionais, o momento de se engajar é agora.